sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Milei compra briga com o futebol argentino – e pode levar uma “bola nas costas”
02/08/2025

O presidente argentino Javier Milei, conhecido por suas posições ultradireitistas e estilo combativo, abriu um novo flanco de batalha política — e desta vez o adversário é um dos maiores símbolos da identidade nacional: os clubes de futebol. Esta semana, Milei assinou um decreto que eleva as contribuições sociais pagas pelas instituições esportivas, que até então contavam com um regime tributário especial.

A medida determinou que a alíquota, antes fixada em 7,5%, suba para 13%, além de um adicional de 5,56% por um ano, sob o argumento de “recuperar déficits acumulados”. O ministro de Desregulação, Federico Sturzenegger, foi direto ao defender a decisão: “Os clubes eram milionários subsidiados pelos aposentados”.

A reação foi imediata. O River Plate, um dos maiores clubes do país, classificou a medida como “confiscatória” e alertou que ela pode “reverter o impacto econômico positivo das atividades do clube”, que, segundo o comunicado, gera receitas em moeda estrangeira e desenvolve ações sociais e educativas. A Associação do Futebol Argentino (AFA) também divulgou nota oficial dura, acusando o governo de sufocar as instituições para facilitar a entrada das SADs — sociedades anônimas no futebol, modelo que Milei defende e que encontra forte resistência na Argentina.

“A única verdade é a realidade. O governo quer pressionar os clubes sem fins lucrativos para abrir caminho ao dinheiro especulativo”, afirmou a AFA. Hoje, as equipes argentinas são associações civis controladas pelos sócios, que pagam mensalidades e têm direito a voto — um sistema considerado patrimônio cultural no país.

A crise levanta uma reflexão inevitável: o que aconteceria no Brasil se um presidente resolvesse desafiar os clubes de futebol, instituições com milhões de torcedores apaixonados e influência social comparável à de grandes partidos políticos? A história mostra que mexer com o futebol é mexer com a alma nacional.

Na Argentina, os impactos podem começar a ser percebidos nas próximas pesquisas de popularidade do governo. O último levantamento, de julho, apontou que 41,4% dos argentinos consideram o governo Milei “ruim ou péssimo”, enquanto 44,1% o avaliam como “bom ou ótimo” — um empate técnico, mas com tendência de queda.

Milei, que desde a posse em dezembro de 2023 prometeu abrir o futebol argentino às sociedades empresariais, pode ter escolhido um inimigo poderoso demais. Resta saber se a guerra com as instituições mais populares do país não será o ponto de inflexão de seu governo.

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