“Encontrei meu filho se masturbando e fiquei em choque. É normal?”
Sim. É absolutamente normal. Mas a pergunta — tão comum nos consultórios de terapeutas e sexólogos — mostra o quanto ainda somos uma sociedade desconfortável com o prazer, principalmente quando ele aparece fora do “tempo esperado” ou das conversas planejadas.
O momento em que uma criança ou adolescente descobre o prazer solitário é um marco do autoconhecimento. Acontece com quase todo mundo, em maior ou menor grau, em alguma fase da vida. Mas como devem agir os pais quando essa descoberta aparece de forma explícita? Devem fingir que não viram? Reprimir? Conversar? E sobre o quê, exatamente?
Conversamos com especialistas para tratar o tema com a seriedade e o respeito que ele merece — sem moralismo, sem risadinhas, sem tabu.
Antes de tudo, respire
“É uma forma de conhecimento do próprio corpo, e ajuda inclusive na construção de relações mais saudáveis no futuro. O problema não está no ato, mas no medo que os adultos têm de lidar com ele”, diz uma especialista
Ela alerta: a repressão pode causar mais danos do que o próprio desconforto da cena. “Reprimir ou envergonhar a criança ou o adolescente pode gerar culpa, vergonha e dificuldade de se expressar sexualmente no futuro.”
Aos pais: é hora de acolher, não de assustar
Numa sociedade hipersexualizada, onde tudo está a um clique de distância, o que a criança precisa é de um ambiente seguro para entender o que está acontecendo com seu corpo — e com seus sentimentos. Segundo a terapeuta sexual Thais Plaza, o caminho ideal é o do diálogo gradual.
“Mas e se estiver demais?”
Essa é outra pergunta recorrente dos pais: quando a masturbação deixa de ser saudável? Segundo as especialistas, o alerta só se acende quando o comportamento começa a interferir em outras áreas da vida — sono, escola, convívio social. Aí sim vale buscar ajuda profissional.
Fora isso, o mais comum é que a frequência varie conforme os hormônios, o estresse, a curiosidade e até o tédio. “Não há um número mágico que defina o que é ‘normal’. O importante é que o jovem se sinta em paz com o próprio corpo”, resume Thaina.
Autoconhecimento é saúde
Masturbação não é vício, não é pecado, não é falta de educação. É descoberta. E quando conduzida com carinho e informação, pode ajudar inclusive no tratamento de disfunções, na diminuição da dor menstrual, no fortalecimento do assoalho pélvico e no controle do estresse — como mostram os estudos mais recentes.
Na dúvida, o melhor caminho para os pais é o mesmo que vale para tantos assuntos delicados: ouvir, conversar e amar. Sem vergonha.