sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Jesus Evangelista
18/04/2025

Discípulos e Arquipélagos:

D’O Livro das Indiferenças
Perdão ou a dualidade do divino

No paraíso, ao contemplar a imagem de Judas na face de Deus, Jesus pediu-lhe perdão pelo destino e fez-se único.

Onde Judas via estigmas, Jesus via perdão.

Jesus não escolhe; projeta-se nas pessoas-modelos que chama a segui-lo. 
Cada uma dessas pessoas tem uma carga da luz divina e, portanto, é uma sombra humana do Cristo.

A onisciência divina estava traduzida na projeção do chamamento; 
a onipresença, na profecia visionária; 
e a onipotência, na determinação de ser humano, apesar de Deus.

Não há meio mais propício ao conhecimento do que viver a situação que se estuda. 
Ao fazer-se a sua própria criatura, Deus tinha que terminar; 
mas terminar ressuscitado em todas as criaturas que se projetou.

A Igreja é Cristo ressuscitado. 
Por isso Deus venceu a morte.

Vamos tomar alguns exemplos das projeções de Jesus na nomeação dos seus discípulos.

Pedro é o humano, demasiadamente humano; 
o que responde para fora antes de se justificar para dentro. 
Impulsivo, frágil, voluntarioso, ama e cai — mas ama de novo. 
As lágrimas de Pedro, após o cantar do galo, 
vieram de uma fonte no paraíso que foi aberta pelo olhar de Jesus.

João é o maior esforço divino de ser humano: o coração. 
É aquele que repousa no peito do Mestre — 
e escuta o que os outros não ouvem: o ritmo do eterno. 
O Cristo do afeto, da intimidade, do amor que não explica, mas permanece.

Tiago, filho de Zebedeu, é o trovão contido. 
Com João, é filho do clamor, mas aprende o silêncio da cruz. 
Tiago é o Cristo da entrega ardente — e do testemunho martirial. 
Foi o primeiro a dar a vida, entre os doze, para provar que o Reino não é força, mas fidelidade. 
Curioso é que ele e o irmão seguem a Jesus diante do silêncio de Zebedeu, o pai. 
Zebedeu crê na missão e os deixa partir. 
Mas a mãe, depois, pede a eternidade: “Concede que se assentem à tua direita e à tua esquerda…” 
O pai crê no chamado. A mãe, na promessa. Ambos creram. Ambos entregaram.

Tomé, o gêmeo, é a vida testada no empirismo. 
A razão encarnada que precisa tocar para crer. 
Mas quando crê, mergulha mais fundo que os outros: “Meu Senhor e meu Deus!” 
Tomé é o Cristo da ciência — o logos que busca o divino na carne.

André é o evangelista do indivíduo. 
Vê a alma, encontra o invisível. 
Apresenta a Pedro, a Nicodemos, ao menino dos pães. 
Sabe que cada milagre começa com um gesto de fé pessoal. 
André é o Cristo da atenção ao detalhe humano.

Mateus, o cobrador de impostos, é o Cristo do registro. 
A fé que se converte em palavra escrita. 
Organiza o espiritual em forma visível. 
Mateus é o Cristo que escreve, que estrutura, que lembra.

Filipe é a inquietude que quer ver o Pai. 
Busca sem parar. 
E ouve de Jesus: “Quem vê a mim, vê o Pai.” 
Filipe é o espelho da busca, a sede que só o amor sacia.

Bartolomeu (Natanael) é o sem falsidade. 
A alma simples que reconhece Deus debaixo da figueira. 
O coração sincero, que não teme ser visto, 
e encontra o Messias na palavra de um amigo.

Tiago, filho de Alfeu, é a constância silenciosa. 
O Cristo da permanência discreta. 
Não aparece nos grandes momentos, mas sustenta a fé com sua humildade.

Tadeu (Judas Tadeu) é a fortaleza da interrogação justa. 
“Senhor, por que a nós e não ao mundo?” 
E ouve: “Faremos morada em quem ama.” 
Tadeu é o templo interior, onde a Trindade habita em segredo.

Simão, o Zelote, é o fogo convertido. 
De nacionalista fervoroso a pacificador do Reino. 
O Cristo que abandona a espada e abraça o amor como revolução definitiva.

Judas Iscariotes é o Ego. 
A parte de Jesus que desejava controlar. 
A tentação da medida, do cálculo, do controle. 
Conhecia o valor do perfume, mas não o custo do amor. 
Jesus o alimenta, confia-lhe o tesouro, partilha o pão.

Ao dizer “o que tens de fazer, faze-o depressa”, Jesus despede-se do próprio ego. 
Judas é a sombra da luz. 
A parte que, sem amor, não suporta a plenitude divina.

Eu me pergunto: 
Quem teceu a corda com que Judas se enforcou? 
O mesmo que entrelaçou o cordão que segura meu crucifixo? 
Talvez. 
Talvez, no paraíso, ao contemplar a imagem de Judas na face de Deus, 
Jesus tenha pedido-lhe perdão — e feito-se único.

Matias vem depois. 
Não foi chamado por Jesus, mas pelo Espírito da comunidade. 
Matias é o Cristo coletivo. 
A escolha que nasce do consenso dos fiéis. 
A lembrança de que a luz pode voltar mesmo após a sombra.

E por fim, há aquele jovem nu.

Na noite da prisão, coberto apenas por um lençol, foge despido. 
(Marcos 14, 51)

Esse jovem é o Self de Jesus. 
A alma exposta. 
A verdade sem defesa. 
A essência que, ao ser perseguida, abandona até o pano que a cobre. 
Ele foge, mas não desaparece. 
Volta no terceiro dia — glorificado. 
Ou talvez nunca tenha saído dali. 
Apenas esperou que o véu se rasgasse para ser visto como é: puro, inteiro, verdadeiro.

Treze homens. Treze arquétipos. Treze reflexos da luz.

Cristo não fundou apenas uma Igreja. 
Ele fundou um espelho.

A pergunta é: 
Em qual deles você se reconhece? 
E que parte de Jesus você tem deixado viver em você?

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