sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Formação médica de alta precisão amplia acesso a técnicas que preservam vidas e fertilidade
25/08/2025

Método criado por cirurgião oncológico leva treinamento especializado e tecnologias aprovadas pela Anvisa a médicos de todo o Brasil, reduzindo barreiras geográficas e desigualdades no cuidado

A concentração de 70% das capacitações cirúrgicas presenciais nas capitais e grandes centros, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobrice), restringe o acesso de médicos do interior a treinamentos avançados, um fator que afeta diretamente a segurança dos pacientes e o uso de abordagens modernas de preservação da fertilidade em casos oncológicos. 

Para reduzir essa desigualdade de acesso, foi estruturado um modelo de capacitação que integra ensino a distância, simulação prática e acompanhamento individualizado. Já aplicado em diferentes regiões do país, o formato treinou centenas de profissionais em procedimentos minimamente invasivos, utilizados em cirurgias oncológicas e intervenções ginecológicas complexas. 

Médicos participantes relatam que a metodologia possibilita atualização técnica sem necessidade de longos deslocamentos, mantendo padrões de qualidade semelhantes aos de hospitais de referência.A iniciativa foi desenvolvida pelo cirurgião oncológico Marcelo Vieira, ex-chefe da Ginecologia Oncológica do Hospital de Amor, em Barretos (SP), que em 2019 realizou o primeiro transplante robótico intervivos do Brasil.

“O interior do país concentra médicos que atendem a uma demanda enorme com pouca oferta de atualização técnica. A proposta é levar até esses profissionais o mesmo padrão de treinamento disponível nos hospitais de referência”, afirma Vieira, que em 2019 realizou o primeiro transplante robótico intervivos do Brasil.

A necessidade de qualificação é crítica na ginecologia oncológica. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam mais de 17 mil novos casos anuais de câncer de colo do útero no país, doença que figura entre as principais causas de morte de mulheres. Em estágios iniciais, técnicas podem preservar o útero e a possibilidade de gestação, mas exigem cirurgiões qualificados e infraestrutura adequada.

Vieira também criou o dispositivo Duda, aprovado pela Anvisa, que evita o fechamento do canal endocervical após cirurgias no colo uterino e preserva a função reprodutiva. Em estudo com 240 pacientes, o uso do dispositivo apresentou maiores taxas de preservação anatômica e de gravidez em relação ao grupo controle. “Não basta salvar a vida da paciente. É preciso oferecer condições para que ela mantenha seus planos e sua qualidade de vida”, diz.

O impacto se estende a casos de endometriose. A Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) estima que 6,5 milhões de brasileiras convivam com a doença, que pode levar à infertilidade e, em casos graves, requer cirurgias de alta precisão para preservar estruturas reprodutivas. “A decisão de como operar e de que forma preservar órgãos vitais depende de formação e experiência. A tecnologia só cumpre seu papel quando está nas mãos certas”, reforça o cirurgião.

Ao integrar telemedicina, simulação prática em peças anatômicas e protocolos baseados em evidências, a Metodologia Cirúrgica busca democratizar o acesso à formação especializada e reduzir desigualdades no tratamento. “O avanço técnico só gera impacto real quando chega a quem está na ponta, cuidando diretamente do paciente”, conclui Vieira.

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