
Tem gente que gosta de ir devagar, marcando território com emojis tímidos e figurinhas de bom dia. Mas a nova tendência nos aplicativos de namoro é mais ousada: o tal do floodlighting, que é como abrir a represa de Itaipu emocional no primeiro match. A criatura mal deu “oi” e já está contando que tem dificuldade de confiar nas pessoas desde que o papagaio fugiu em 2007.
No TikTok, virou moda. Tem quem ache bonito, profundo. Mas a verdade é que parece mais uma pegadinha afetiva: “vou jogar minha dor no seu colo e ver se você foge ou fica”. É uma espécie de Teste do Coração Instantâneo: se a pessoa não correr, talvez fique para o café.
Mas essa prática não é nova. Quem frequentava a Embaixada do Piauí, em Brasília, conheceu o lendário Roldão. O cabra pedia uma dose de cachaça e vinha com um combo de desabafos: da ex-mulher que fugiu com o carteiro à dor crônica no joelho esquerdo. Ele não queria conversa, queria audiência. E se você desse atenção, virava psicólogo honorário do bar do Alencar.
Em Princesa, sertão adentro, Chico Macaxeira era mais performático. Bastava uma música de Zezé Di Camargo e pronto: olhos marejados, soluços e o relato dramático da mãe desaparecida, que — segundo boatos — só tinha ido comprar sabão em barra no mercado de seu Abel. Chico dizia que o amor começa quando a lágrima encontra a cerveja. A plateia, claro, aplaudia com o coração partido e o copo cheio.
Hoje, os Roldões e Macaxeiras migraram para os aplicativos. Trocamos o balcão do bar pelo chat do Tinder. Mas a lógica é a mesma: escancarar a alma, despejar o passado e ver se alguém topa o pacote completo.
A diferença é que antes, no mínimo, tinha um tira-gosto.