segunda-feira, 31 de março de 2025
Espiritualidade da arte
23/03/2025


Se com a escultura e a pintura o homem registrou a vida desde os tempos remotos, na literatura colocou a alma em maior extensão. Deixou o provisório para viver a dimensão da espiritualidade emanada da Arte. O Cântico dos Cânticos apresenta a supremacia na revelação da alma humana, assim como A Divina Comédia apresenta os caminhos para o conhecimento da vida em todas suas dimensões. A Capela Sistina pintada por Michelangelo é a expressão suprema da Arte, assim como são os girassóis de Van Gogh.
A Arte resgata a existência humana, humaniza a vida devastada pela dor e revitaliza o prazer de viver. A arte embeleza a vida com a paz que conduz, e faz a pessoa refletir seu próprio viver para encontrar a paz. A espiritualidade encontrada nas artes ajuda olhar o ponto luminoso no futuro da vida.
Na perspectiva de observar a Arte como instrumento da espiritualidade, o Cântico dos Cânticos revela a superioridade da poesia mística de conotação amorosa na construção do relacionamento entre pessoas.
Arte e espiritualidade se interligam. No Convento São Francisco essa interligação é visível nas suas capelas, nos corredores, na estrutura do cáustico e na abundância do verde nos seus extensos jardins com plantações nativas.
O poeta e cardeal português José Tolentino Mendonça quando falou da revelação sobre arte e espiritualidade cristã, assim se expressou: “A literatura, a arte ajuda-nos a perceber a importância do provisório como lugar de verdade, de autenticidade, como caminho para viver a espiritualidade”. Ele recordava em texto sobre espiritualidade na poesia mística que “os grandes amores são lugares de uma grande busca, mais do que fusão”.
A arte ajuda iluminar a vida com muitos solares. Nessa paisagem luminosa que a poesia e as artes criam, somos revelados na imagem suprema do Divino, às vezes escondidos aos olhos, porque Deus é Poesia. As vezes a poesia se esconde para melhor nos atrair.
Quando encontramos a beleza na Poesia, enfim, nas Artes, é ao próprio Deus que encontramos. O homem é uma obra de arte de Deus, o mesmo Deus que se fez presente com Jesus. Por isso devemos armar a Deus como amamos as Artes, a Poesia e os nossos semelhantes.
Os caminhos da mística levam o homem à transformação da alma. O místico é um arquiteto do sentimento humano. Muitos conseguem transformar esse sentir em algo estético, vivo e profundo.
Antigas construções carregam essa visão mítica. O convento franciscano da Paraíba mostra isso. Para sentir essa energia embalada pelas suas paisagens de arbustos ou pedra calcárea que integram seu conjunto, basta caminhar lentamente pelos corredores, olhar o mundo pelas janelas ou percorrer as alamedas para sentir o ruflar das pequenas folhas das árvores e das palmeiras. Ali tem a presente de Deus.

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José Nunes
José Nunes

José Nunes é jornalista e membro da Academia Paraibana de Letras (APL).