Especialista alerta que o grande salto da carreira jurídica exige visão estratégica e gestão eficaz
O último trimestre do ano ainda é um momento propício para uma virada de carreira na advocacia: deixar a execução técnica em segundo plano e assumir o papel de comando estratégico no escritório. A orientação é de Edgard Dolata, advogado, empresário e especialista em LGPD, que reforça: “O advogado é sim um empresário. Liderar vai além do jurídico: exige gestão, visão estratégica e tomada de decisão”.
Uma base confiável para essa transformação pode ser extraída do estudo Perfil ADV, 1º Estudo Demográfico da Advocacia Brasileira, realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido do Conselho Federal da OAB. Segundo o levantamento da OAB Nacional, 72% dos advogados atuam como autônomos, enquanto apenas 29% estão vinculados a escritórios ou empresas jurídicas. O estudo também aponta que 42% da advocacia exerce atividade exclusivamente fora das grandes capitais, em municípios do interior estadual
Embora o Perfil ADV não traga dados específicos sobre planejamento estratégico ou delegação, pesquisas qualitativas indicam que a gestão ainda é um desafio estrutural no setor jurídico. O artigo Framework do Planejamento Estratégico: um estudo aplicado em escritórios de advocacia, divulgado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), revela que a escassez de preparo gerencial e a cultura jurídica tradicional dificultam a adoção de práticas estratégicas. Já o estudo publicado no Brazilian Journals, aponta que a ausência de planejamento formal e indicadores é um dos principais gargalos de crescimento no setor jurídico brasileiro.
A migração da execução para o comando, segundo Dolata, requer atenção a três frentes: mentalidade, estrutura e liderança. Primeiro, o advogado precisa redefinir seu papel: de executor de tarefas para gestor estratégico. Em seguida, deve organizar o escritório como empresa, adotando metas, indicadores e processos simples. Por fim, é essencial desenvolver lideranças internas capazes de garantir que a visão estratégica se reflita na cultura do time.
Cinco passos para o advogado sair da execução e assumir o comando do negócio, segundo Edgard Dolata:
1. Mapeie o tempo gasto em tarefas operacionais
Registre por uma semana suas principais atividades e identifique o que pode ser delegado. Isso ajuda a visualizar gargalos e definir prioridades.
2. Defina indicadores simples de gestão
Controle de fluxo de caixa, captação de novos clientes e prazos médios de entrega. Sem números, não há comando.
3. Implemente rituais de liderança
Reuniões semanais de alinhamento e feedback direto com a equipe reduzem falhas e fortalecem a cultura do escritório.
4. Invista em formação gerencial
Participação em grupos de empresários, cursos de gestão, vendas e atendimento jurídico ampliam a visão empresarial e aprimoram a tomada de decisão.
5. Construa uma cultura de autonomia
Delegar não é abandonar: é criar processos claros e dar liberdade com responsabilidade. A liderança madura começa pela confiança.
O especialista ressalta que, em muitos escritórios, a liderança ainda é vista como privilégio técnico, e não como função essencial de gestão. “A advocacia precisa deixar de ser reativa e operar de forma proativa, com foco em crescimento sustentável e cultura organizacional”, conclui Dolata.