A recente decisão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de custear os gastos de deslocamento e hospedagem de filhos e acompanhantes de atletas mães ou lactantes durante competições nacionais é, sem dúvida, um avanço louvável. Isso está no caminho de tornar o futebol feminino mais inclusivo e humano.
Pela primeira vez, jogadoras que conciliam a maternidade com a carreira profissional terão garantido o direito de viajar com seus filhos em condições dignas, com suporte financeiro da entidade máxima do futebol brasileiro.
Trata-se de uma medida importante, que reconhece a dupla jornada enfrentada por muitas atletas e promove um ambiente mais acolhedor no esporte.
Contudo, é essencial destacar que essa iniciativa não exime os clubes empregadores de suas responsabilidades legais.
A natureza jurídica dessa norma é interna à CBF, válida apenas para as competições que ela organiza. Portanto, os clubes devem cumprir integralmente também o que prevê a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e demais legislações aplicáveis à proteção da maternidade.
Direitos como licença-maternidade, estabilidade no emprego, condições adequadas de trabalho para lactantes e suporte à conciliação entre maternidade e atividade profissional são garantias legais que os clubes devem observar, independentemente de diretrizes da CBF.
Vale ressaltar, inclusive, que não é preciso esperar por normas da CBF para agir corretamente. Exemplos claros disso são o do 3B da Amazônia, que já em 2025 levou a filha de uma das suas jogadoras. Sole Jaimes é mãe da Aurora junto com a goleira Kelly Chiavaro em todas as viagens da equipe para jogos fora de casa, arcando com os custos. Assim como o Cruzeiro fez ao levar a Pamela com a sua filha Sarah em uma viagem para jogar.
A iniciativa demonstra que, mais do que regras, o que basta é a vontade de fazer o certo: garantir que mães e filhos permaneçam juntos durante a rotina de treinos e jogos.
Assim, embora o gesto da CBF seja digno de reconhecimento e represente um avanço significativo, ele não substitui a obrigação institucional dos clubes de respeitar os direitos trabalhistas das suas atletas.