sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Ancelotti vai conhecer o que significa o terror da altitude boliviana
09/09/2025

Com a classificação já assegurada para a Copa do Mundo, o Brasil encara nesta terça-feira, às 20h30 (de Brasília), a Bolívia em El Alto, cidade colada a La Paz, a mais de quatro mil metros acima do nível do mar. Tecnicamente, a partida não vale muito para a Seleção. O técnico Carlo Ancelotti já tem a base do time montada e vai aproveitar o jogo para observar um ou outro jogador — casos como o volante Jean Lucas, do Bahia, que deve ganhar minutos, e a ausência de Casemiro, suspenso, que abre espaço para novas combinações no meio-campo.

Mas a verdade é que a escalação pouco importa neste momento. O que realmente está em jogo é a experiência que Ancelotti, aos 66 anos, vai enfrentar pela primeira vez em sua longa carreira. Um dos treinadores mais vitoriosos do mundo, dono de títulos nacionais e internacionais em diferentes países da Europa, será agora apresentado a uma das condições mais hostis do futebol: a altitude de El Alto.

O desafio invisível

A altitude acima dos 4.000 metros altera completamente a dinâmica do corpo humano. A falta de oxigênio provoca cansaço precoce, dores de cabeça, tontura e aceleração da respiração. Para atletas de alta performance, os efeitos são ainda mais devastadores: a recuperação entre as jogadas é muito mais lenta, o ritmo cai vertiginosamente e a sensação é de correr contra o próprio ar rarefeito. Não por acaso, a FIFA já chegou a proibir jogos em altitudes superiores a 2.500 metros, mas voltou atrás após forte pressão política e esportiva de países andinos.

Enquanto na Europa há uma rigidez quase obsessiva com a qualidade dos gramados — não se aceita, por exemplo, o uso de campos sintéticos em competições oficiais de elite —, a América do Sul convive com essa particularidade que vai muito além da condição do piso. Jogar a mais de quatro mil metros é muito mais grave que qualquer gramado irregular: é um teste contra os limites da fisiologia humana.

Uma lembrança pessoal

A dimensão desse desafio é algo que só quem sente pode realmente compreender. Quando estive em Quito, no Equador, cidade que fica a cerca de 2.800 metros de altitude, precisava gravar boletins de um minuto e meio para a rádio Band News FM, na época em que trabalhava na Band. Em poucos segundos apenas de fala mais acelerada, já me faltava o ar. Se para falar em frente a um microfone já era difícil, imagine o que é para um jogador disputar 90 minutos correndo, dividindo bolas e tentando manter a concentração.

A lição para Ancelotti

Por isso, a partida em El Alto pode significar uma verdadeira aula para Carlo Ancelotti. Até no banco de reservas, apenas sentado, ele sentirá os efeitos da altitude. É a chance de o treinador italiano descobrir, de forma quase didática, uma realidade sul-americana que desafia até os mais preparados.

O Brasil, já classificado e tranquilo na tabela, tem pouco a perder em termos competitivos. Mas Ancelotti pode sair dessa terça-feira com uma das experiências mais marcantes de sua carreira. Uma lição de que o futebol, às vezes, não se decide apenas em esquemas táticos ou escolhas técnicas, mas também nos limites que a própria natureza impõe.

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