segunda-feira, 31 de março de 2025
 Alain Delon, Piancó, Chicó e eu
27/03/2025

     Repetindo o colega escritor, posso dizer que ultimamente tenho pensado muito na morte; só espero que não seja reciproco. Dito isto vou primeiro tratar da morte do segundo homem mais bonito do mundo de acordo com Dona Creusa Pires, que foi Alain Delon. O primeiro nem precisa dizer, né?

    Aos fatos. Depois de sofrer AVCs em 2019, ele postou a seguinte mensagem: “- Vou deixar esse mundo sem me sentir triste. A vida já não me atrai. Eu vi e experimentei tudo. Odeio a era atual, estou farto dela! Vejo pessoas realmente detestáveis o tempo todo. Tudo é falso, tudo é substituído. Todos riem uns dos outros sem olhar para si mesmos! Nem respeito pela palavra dada. Só o dinheiro é importante. Ouvimos falar de crimes o dia todo. Eu sei que vou deixar este mundo sem me sentir triste por isso”. Em seguido embarcou no suicídio assistido que na Suíça é legal.

    Ou seja, no caso de Delon ele procurou a morte porque enchera o saco de viver nas circunstâncias que eram ofertadas.

    Coincidentemente li há pouco uma mensagem de Marcelo Piancó que data de março de 2023 e diversamente de Alain Delon demonstra que ele não procurou a morte, porém encontrou-a sem querer. Vou repeti-la: “Depois que vi o resultado do laudo dos exames da Nova, acho que só me resta pedir uma boa morte e me despedir de vcs, agradecendo por tudo mesmo. Não fiquem tristes com o que estou escrevendo, eu tive uma vida melhor e maior do que merecia. Saber que vai morrer é um privilegio estranho, mas não deixa de ser medonho, principalmente quando a data está muito em cima. Eu vejo minha morte no olhar dos médicos, na espera de cada procedimento e principalmente quando estou só. Eu não estou desistindo, ninguém desiste de uma luta que não vai haver. Valeu amigos, continuem por mim”.

    O grande humorista mostrou resignação e grandeza.  É bem a perspectiva do personagem Chicó, no Auto da Compadecida (Ariano Suassuna) diante da morte de seu amigo João Grilo: “- Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo, morre.”.

    Não há saída. Se você vai morrer de qualquer jeito faça como eu; relaxe e goze. Gonzaguinha ensinou; não tenha vergonha de ser feliz.

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Marcos Pires
Marcos Pires

Marcos Pires é advogado, escritor e carnavalesco.