Ontem, 27 de maio de 2025, teve um caso de xenofobia no jogo pela Taça Libertadores da América, na partida entre São Paulo e Talleres, no estádio do Morumbi. Envolvendo os jogadores Miguel Navarro, do Talleres, que teria sido ofendido, e Damián Bobadilla, do São Paulo, que seria o ofensor.
Não vou gastar muitas linhas para dizer que xenofobia é crime, que é uma outra forma de racismo, que não é baseada na tonalidade de cor da pele da pessoa, mas, sim, na sua origem, que deve ser combatida.
Mas é preciso lembrar que: A Lei nº 7.716/1989, que é conhecida como a Lei de Crimes Raciais, prevê a punição por discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Ou seja, prevê a xenofobia.
Infelizmente, não lembramos, ao menos no Brasil, que a xenofobia também é crime, pois ofende a dignidade da pessoa humana, colocando sob ela um adjetivo pejorativo, apenas em razão do lugar do seu nascimento, com o intuito de a diminuir enquanto ser humano. Talvez porque aqui se coloca como apelido o nome do local de origem da pessoa, sem querer ofendê-la por isso. Mas nos esquecemos que tratar a pessoa pelo seu local de origem, a depender de como se faz, é sim, uma forma de ofender.
A questão aqui é que nesse texto as partidas da Taça Libertadores, ao colocar no mesmo campo de jogo times e pessoas de países diferentes, colocam mais de quinhentos anos de uma história distinta juntos, e por vezes, como nesse caso, são muitos países com histórias distintas, diferentes.
E essas histórias seguem sendo escritas no nosso tempo, pois elas não param nunca de ser escritas.
Quando um jogador de origem paraguaia, que está atuando no Brasil e não digo apenas defendendo um clube brasileiro, mas, em um jogo ocorrido no país, segundo consta, ofende um jogador venezuelano, que atuava por um clube argentino, ou seja, quatro países diferentes envolvidos, por ele ser venezuelano, vemos que não existe uma identidade histórica de nos vermos como sul-americanos.
A Libertadores expõe de uma maneira muito clara que não existe uma equalização na nossa história, que não nos entendemos como sendo um único continente, e episódios como esse colocam por terra a velha história do “nos falamos, eles hablan”.
As ofensas entre jogadores, se apenas para desestabilizar o adversário, ou para o ofender enquanto ser humano, creio que ambas as razões são as mais comuns, continuarão a acontecer durante muito tempo, no futebol, especialmente enquanto o foco ficar a ser apenas na questão do combate da questão da nomenclatura do desrespeito ao ser humano e não focar no que interessa que é a proteção da dignidade do trabalhador do futebol, para evitar que ela seja ofendida, seja em razão da cor da pele, seja em razão da origem da pessoa.
O erro continua a ser errado independentemente do nome que é dado, mas, às vezes, existe uma menor indignação ao chamar um ato de xenofóbico do que ao chamá-lo de racista, na imprensa. Mas, não pode causar menos rigor ao julgador que aplicará a lei ao caso.
Sobre o fato acontecido, não vou tecer maiores considerações, o usei apenas para demonstrar a importância da reflexão sobre a importância de se defender o ser humano, independentemente da ofensa ser sobre a sua origem ou a sua cor de pele.