terça-feira, 1 de abril de 2025
A retórica do autoritarismo: semelhanças nos discursos de Hitler, Mussolini e Bolsonaro
23/03/2025

A análise do discurso político é essencial para compreender os mecanismos de poder e manipulação que moldam o imaginário social. No caso de figuras como Adolf Hitler, Benito Mussolini e Jair Bolsonaro, embora separados por contextos históricos e culturais distintos, é possível traçar paralelos significativos em suas estratégias discursivas, que revelam tendências autoritárias comuns.

Tanto Hitler quanto Mussolini construíram seus discursos sobre uma retórica nacionalista inflamada, que exaltava a pátria em oposição a inimigos internos e externos. Hitler falava da “raça ariana” e do orgulho alemão ferido após o Tratado de Versalhes, enquanto Mussolini prometia restaurar a glória do Império Romano através de uma Itália forte e unificada. Da mesma forma, Bolsonaro frequentemente apela ao “patriotismo” e à ideia de um Brasil supostamente corrompido que precisa ser resgatado, frequentemente contrapondo o “cidadão de bem” ao “inimigo interno” — representado por minorias, movimentos sociais ou opositores políticos.

Outra semelhança marcante é a necessidade de um inimigo claro e constante. Para Hitler, eram os judeus, os comunistas e os estrangeiros. Mussolini apontava socialistas, liberais e outros que resistiam ao seu projeto de unificação totalitária. Bolsonaro, por sua vez, também constrói discursos em torno de inimigos ideológicos: comunistas, esquerdistas, imprensa “mentirosa” e instituições democráticas quando estas lhe são contrárias. Essa estratégia serve para unir seus apoiadores em torno de uma luta moral e simplificada entre o “bem” e o “mal”.

Nos três casos, há um esforço explícito para centralizar o poder e a narrativa nacional na figura do líder. Hitler era o “Führer”, uma espécie de salvador messiânico da Alemanha; Mussolini se autointitulava o “Duce”, o guia absoluto da Itália rumo à sua redenção imperial. No caso de Jair Bolsonaro, embora atuando dentro de uma democracia formal, o fenômeno é semelhante: seus apoiadores o chamam de “Mito” — e ele próprio adota esse título em discursos e ações públicas, como uma marca pessoal e política. O uso do termo “mito” não é casual: ele sugere algo além do humano, uma figura quase lendária, incorruptível, destinada a uma missão histórica. Assim como os líderes fascistas europeus, Bolsonaro se coloca como aquele que tem uma conexão direta e especial com o povo, acima das instituições e das críticas.

A retórica anti-intelectual é outro ponto de convergência. Hitler e Mussolini deslegitimavam o pensamento crítico, as universidades e a ciência que não servia à propaganda do Estado. Bolsonaro também frequentemente ataca universidades, cientistas e intelectuais, especialmente quando eles divergem de suas posições. O discurso contra as instituições democráticas, como o Judiciário ou a imprensa livre, também segue essa mesma lógica autoritária.

Os três líderes utilizam uma linguagem agressiva e, por vezes, abertamente violenta, contra seus opositores. Hitler e Mussolini, antes e durante seus regimes, fizeram uso explícito da força para eliminar adversários. Bolsonaro, embora em um contexto diferente, frequentemente faz apologia à violência policial, ao armamento da população e emprega uma linguagem belicista, promovendo a ideia de que o confronto é necessário para “limpar” o país.

Apesar das diferenças históricas e políticas entre o nazifascismo europeu e o bolsonarismo, há elementos retóricos e ideológicos que os aproximam. O discurso de Bolsonaro dialoga com estruturas discursivas autoritárias já testadas por Hitler e Mussolini: o apelo emocional, o inimigo comum, a centralização no líder, o nacionalismo e o ataque às instituições democráticas. A adoção do título de “Mito” fortalece ainda mais essa semelhança, colocando Bolsonaro como uma figura messiânica aos olhos de seus seguidores. Identificar essas estratégias não é apenas um exercício acadêmico, mas um alerta sobre os riscos de discursos que, sob o pretexto de ordem e moralidade, corroem os pilares do Estado de Direito.

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