No vasto universo dos argumentos esquisitos, há um que insiste em sobreviver feito barata em cozinha iluminada: a quantidade de dedos como critério de caráter. Sim, porque, segundo certas mentes brilhantes, ter dez dedos seria um pré-requisito moral, enquanto qualquer variação numérica resultaria em suspeição imediata.
Se isso fosse verdade, precisaríamos reescrever toda a história da humanidade. Newton, que revolucionou a ciência, só teria credibilidade se contasse nos dedos das mãos sua teoria da gravidade – e coitado se tivesse perdido um num experimento desastrado! O grande pianista Django Reinhardt, que tocava magistralmente com apenas dois dedos na mão esquerda, seria considerado um farsante musical. E o conterrâneo Zé do Brinco, célebre por ostentar 11 dedos, teria que ser canonizado imediatamente como padroeiro da honestidade.
O problema é que essa lógica não resiste a um sopro de bom senso. Se ter mais dedos garantisse competência, então o polvo seria presidente, o ouriço do mar ocuparia o Ministério da Justiça e o caranguejo comandaria a economia com suas múltiplas pinças. Por outro lado, se perder um dedo fosse sinônimo de desvio de caráter, um carpinteiro desatento estaria automaticamente desqualificado para dar bom-dia.
Mas não sejamos tão exigentes com a coerência dos argumentos alheios. No fim das contas, há quem prefira contar dedos a contar boas ideias. Só é uma pena que, para alguns, falte justamente aquele dedo essencial para desligar a própria indignação seletiva.