quinta-feira, 8 de maio de 2025
A estreia de Gonzaga
13/04/2025

No dia 4 de março de 1954, Gonzaga Rodrigues estreou como cronista, já sendo o jornalista que dominava a forma de escrever. Sempre produziu crônica. Sem interrupção. Mesmo quando assumiu cargos públicos. Conquistou leitores. Arrebanhou admiradores desde aquela época.
Ele atuava na imprensa desde o ano de 1951, como copiador de telegramas radiofônicos, numa agilidade impressionante, logo passando para buscar a notícia na rua. Anteriormente, teve poemas publicados em jornalzinho de festa em Alagoa Nova e suplementos escolares. Quando chegou para morar na Capital, três anos depois, no Jornal O Norte, marcou oficialmente o início da carreira como cronista.
Chamado às pressas para substituir o titular da Coluna “Revista da Cidade”, José Souto, escreveu e publicou a crônica intitulada de “Novo Inquilino”. Para deleite dos seus admiradores, peço vênia para transcrever pedaços deste texto que o jovem Gonzaga, de 21 anos, escreveu.
A crônica começa assim:

  • O inquilino viajou ontem. Na falta dele faremos um conluio, uma espécie de “amancebo”, contanto que a “Revista” não saia em branco.
    O texto com estilo escorreito. Antevendo-se o escritor tarimbado. Conhecedor da língua.
    No segundo parágrafo escreveu:
  • Nova, ainda, e esta coluna já tem a sua história. A história breve, é natural, mas história. Iniciada por Carlos Romero, hoje juiz e homem solene, metido no interior entre autos e sentença, passou esta área a exibir as ideias de Souto, do repórter Souto, nunca deixada de sair, embora com pausas.
    No decorrer do texto disseca sobre a vida das colunas que surgem na Imprensa, fazendo referência a Juarez Batista que já tivera a sua e, tempos depois, deixou de ser publicada. Recorda José Leal, na época o secretário e editor do jornal, que teve coluna denominada “Nota do Dia”, com vida breve.
    Na crônica de estreia Gonzaga, mostrou-se leitor atento ao que existia de melhor na literatura mundial, indo buscar em George Orwell citações para justificar que “na província, este gênero de literatura tinha vida efêmera”.
    Na leitura apurada da crônica é visível a presença do escritor diferente na produção do texto, com estilo que o consagrou até hoje. Inconfundível. Naquela crônica como agora, vê-se o escritor da pressa, do imediato, da contagem regressiva do tempo, como avalia Ângela Bezerra de Castro. Percebe-se, ainda, a simbiose entre ele e o gênero que escolheu como expressão maior de sua literatura.
    A crônica tornou-se o espelho da alma. Da sua alma. Da alma do povo. Da alma do sitio que anda com ele. Fala e escreve com o coração. Harmonioso.
    Cronista que faz sua a nossa dor. Solidário. Voluntarioso.
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José Nunes
José Nunes

José Nunes é jornalista e membro da Academia Paraibana de Letras (APL).