Gosto de contar histórias e meus amigos, como Rubens Nóbrega, gostam da minha narrativa com esse mundo em que vivi quando muito menino.
Mas, devo confessar: não sou fuxiqueiro nem mentiroso. Tudo que conto é verdade e acredito no que me contaram. Sou fiel a eles. E isso me basta.
Esperançado na generosidade dos homens mais sábios e mais cultos, peço examinarem com atenção o que conto, como diria Ibn Khaldun.
O homem que sabe uma história tem a obrigação de torná-la pública. Sob pena de ser acusado de omissão perante a vida. E a omissão é sempre uma coisa desprezível.
Assim sendo, vamos lá. Maria Gervasio era uma moça bonita, morena de cabelos negros, calma e muito educada. Filha de seu Epitácio Gervasio e Dona Expedita Gervasio. Um “partidão”.

Severino Araújo era um galego bonitão e cresceu os olhos para cima de Maria. E começaram namorar. Mas, Biu queria casar com Maria e ela queria casar com ele. Mas, não tinham condições financeiras para manter uma casa.
A solução encontrada foi que Biu ia para São Paulo ganhar dinheiro, voltar e casar com sua amada. E Maria ficava “guardando a ausência” do namorado. Comedida, Maria só saía para a missa ou para ir ao Cartório dos pais.
Mas, o Diabo tem seus planos – e você sempre deve fugir dos planos do Capiroto. Dona Expedita Gervasio foi criada por um homem chamado José Gervasio, uma espécie de Pai de dela, e portanto, avô de Maria.
Zé Gervasio era um proprietário de terras no Principado de Sant’Ana do Garrote, dono da Fazenda Exu, e funcionário da Receita Federal. Falava, além do Português, Latim, Francês, Espalhol, Italiano e um monte de outros idiomas.
Andava sempre de paletó e usava uma Bengala com um cravo de ouro no Cabo. Era educado, culto e fino. Mas, gostava de beber aguardente e quando bebia se transformava em outra criatura.

No sábado, dia de feira, ele almoçava na casa de Dona Expedita. Chegou um dia e encontrou Maria em casa. “Minha filha eu nunca mais lhe vi na Rua”, disse.
“É que eu estou guardando a ausência de Severino”, respondeu a pacata Maria. E ele: “Não faça isso. Arranje outro namorado e vá se divertir. Tem Cachaça aí? Não perca sua vida pensando em homem”.
Maria trouxe a Cachaça e seu Zé bebeu. Quando o velho foi saindo, um carro parou na frente da casa. Era Severino Araujo, que voltará para cumprir o que prometera a Maria.
Os dois se casaram e Zé Gervasio e Antônio Honório foram os padrinhos do casamento. Agora vá entender o amor…