A votação do PL Antifacção, uma das mais sensíveis do ano, entrou no centro de um possível escândalo institucional. Há fortes indícios de que a Câmara dos Deputados sabia que Alexandre Ramagem estava fora do país — mesmo condenado pelo STF e proibido de viajar — e, ainda assim, permitiu que ele registrasse presença e votasse de forma remota a partir dos Estados Unidos.
Documentos internos apontam que, no dia da votação, Ramagem solicitou e recebeu da própria Câmara a habilitação de um chip com dados internacionais, permitindo o uso do sistema de votação no exterior. Ao mesmo tempo, a Polícia Federal investiga se ele deixou o Brasil clandestinamente, cruzando por um país vizinho para driblar o controle migratório.
A partir desse conjunto de informações, surgem três perguntas gravíssimas:
- A Câmara acobertou a fuga?
Se a Casa tinha elementos indicando que o deputado estava no exterior, mesmo sob restrições judiciais, há suspeita de omissão ou conivência institucional. - O voto foi ilegal?
O regimento não permite voto remoto a parlamentar fora do país sem missão oficial. Ramagem não estava em missão e não poderia ter deixado o Brasil. - A votação deve ser anulada?
A oposição já prepara pedido de anulação. Se o voto é irregular, o resultado pode ter sido contaminado — e o substitutivo aprovado, que enfraquece a atuação da Polícia Federal, pode cair.
Nenhuma dessas respostas está dada. Mas o cenário é explosivo: um deputado condenado, investigado por fuga, votando dos EUA com autorização técnica da Câmara, sem que o STF fosse comunicado. A soma desses fatores abre uma crise que ultrapassa o campo político e atinge diretamente a integridade do processo legislativo.
Se confirmadas as irregularidades, o Brasil pode estar diante de um dos episódios mais graves de desrespeito simultâneo ao Judiciário, à Polícia Federal e ao próprio regimento da Câmara.