O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou, na noite desta segunda-feira (27), um novo recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) tentando reverter a condenação a 7 anos e 3 meses de prisão por envolvimento na tentativa de golpe de Estado. A peça jurídica, no entanto, chama atenção por uma contradição curiosa: ao pedir que o STF reconheça que o ex-presidente “desistiu do golpe”, a defesa acaba, de forma implícita, admitindo que houve, sim, uma trama golpista.

Os advogados afirmam que Bolsonaro “não emitiu ordens nem assinou documentos” relacionados a qualquer articulação com as Forças Armadas, e pedem que seja reconhecida sua “desistência” da iniciativa após reuniões com militares. Na prática, o argumento tenta se apoiar na ausência de um ato concreto para suavizar a acusação — mas, ao mesmo tempo, reconhece que havia um plano em curso.

No documento de 85 páginas, a defesa também chama a condenação de “injusta” e “contraditória”, alegando que o STF não explicou com clareza os critérios usados para fixar a pena. O texto ainda questiona as contas que levaram ao cálculo da punição e sustenta que houve “cerceamento de defesa” e “falta de tempo hábil” para analisar o processo.

Os embargos de declaração foram protocolados nas últimas horas do prazo legal e, como prevê o rito, serão analisados no plenário virtual do STF. O relator é o ministro Alexandre de Moraes. A expectativa é que o tribunal apenas esclareça pontos formais da decisão, sem alterar o mérito da condenação.

Mesmo assim, o tom da defesa — que tenta transformar a tese de “golpista arrependido” em argumento jurídico — adiciona uma nova camada de confusão à estratégia do ex-presidente. Ao negar o crime, mas admitir a conspiração, Bolsonaro parece cada vez mais preso às próprias versões sobre os eventos de 8 de janeiro.