Bolsonaristas reagiram com ironia e descrença à conversa telefônica entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, realizada na manhã desta segunda-feira (6/10). A ligação, que durou cerca de 30 minutos, tratou de temas comerciais e da retirada de sanções impostas pelos Estados Unidos a produtos e autoridades brasileiras.
Aliado do clã Bolsonaro, o advogado Fabio Wajngarten foi um dos primeiros a se manifestar. Em publicação nas redes sociais, ele minimizou a importância do diálogo e afirmou que “a mera ligação entre chefes de Estado que pensam e atuam de maneira absolutamente contrastante não quer dizer absolutamente nada”. Segundo ele, a política externa brasileira seria “retrógrada, lenta e sem nenhuma tecnicidade”.
Pouco depois, o influenciador Paulo Figueiredo, braço direito de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, também se manifestou. Mesmo afirmando estar de férias, disse que acordou “embasbacado” com o entusiasmo da imprensa brasileira diante do contato entre Lula e Trump. “Zero de avanço! O grau de desconexão com a realidade é patológico. Como disse: a luz no fim do túnel é um trem”, ironizou.
Em outra publicação, Figueiredo destacou que o fato de o secretário de Estado americano, Marco Rubio — conhecido por sua postura ultraconservadora e por críticas à América Latina — ter sido designado para conduzir as negociações, seria sinal de que nada avançaria. “Com Rubio no comando, a chance é zero”, afirmou enfaticamente.
Minutos depois dessa declaração, o próprio Trump foi às redes sociais e surpreendeu os críticos. Em mensagem pública, o presidente americano elogiou o diálogo com Lula: “Tive uma ótima conversa com o presidente Lula. Discutimos muitos assuntos, especialmente economia e comércio. Gostei da conversa — nossos países se darão muito bem juntos!”, escreveu.
Horas mais tarde, já no Salão Oval, Trump voltou a falar sobre o tema, novamente elogiando o diálogo com o Brasil e a disposição de ambos os governos em “buscar um caminho justo” para as relações comerciais. A fala do republicano desarmou o discurso do bolsonarismo e deixou os aliados de Bolsonaro visivelmente desconcertados.
A ligação entre Lula e Trump teve participação dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Itamaraty) e Sidônio Palmeira (Secom), além do vice-presidente Geraldo Alckmin e do assessor especial Celso Amorim. Do lado americano, Trump indicou Marco Rubio para acompanhar as tratativas com o governo brasileiro.
Ao final da conversa, Lula e Trump concordaram em realizar um encontro presencial em breve. As opções em estudo são a Cúpula da Asean, na Malásia; a COP30, em Belém; ou uma visita oficial de Lula aos Estados Unidos.