sábado, 6 de dezembro de 2025
Blindagem em troca da Anistia: os conchavos que movem Brasília
17/09/2025 12:55
Redação ON Reprodução

A crise política em torno da PEC da Blindagem e da proposta de anistia a Jair Bolsonaro ganhou novos contornos nesta semana. Longe dos holofotes, Centrão, PT e governo testam um arranjo de conveniência que pode redefinir a relação de forças no Congresso. Trata-se de uma apuração da repórter especial do Estadão, Vera Rosa, que revelou os bastidores de um possível acordo: os petistas aceitam avançar na chamada blindagem parlamentar, em troca de o Centrão recuar da defesa da anistia ampla e irrestrita a Bolsonaro e seus aliados.

Segundo o relato de Vera Rosa, o Centrão – que em público jura lealdade ao ex-presidente – tem trabalhado em duas frentes. De um lado, oferece votos para a aprovação da PEC que dificulta prisões e processos contra parlamentares. Do outro, articula com o governo para derrubar a urgência do projeto que concede perdão aos envolvidos no 8 de Janeiro. Em resumo, o Centrão estaria disposto a rifar Bolsonaro para salvar seus quadros de investigações sobre corrupção e desvio de emendas.

A contradição expôs fissuras dentro do PT. Em reunião com o presidente do partido, Edinho Silva, deputados e senadores divergiram abertamente. Parte da bancada considerou o entendimento uma afronta ao discurso de Lula contra privilégios, enquanto outros admitiram votar a favor da blindagem sob o argumento de que “os fins justificam os meios”. O resultado no plenário mostrou a divisão: no primeiro turno, 51 petistas votaram contra a PEC e 12 foram favoráveis.

Enquanto o debate acontecia na Câmara, no Palácio do Planalto a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, costurava com ministros ligados ao Centrão e ao MDB. A operação incluiu até um gesto prático: parlamentares licenciados para cargos no Executivo retornarão ao Congresso apenas para reforçar os votos contra a anistia. Uma demonstração clara de que o governo também tem interesse em encerrar a novela da anistia a Bolsonaro, mesmo que precise engolir a blindagem parlamentar.

Nesse jogo, ninguém atua de graça. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), enfraquecido depois da condenação de Bolsonaro pelo STF, busca limpar a pauta e retomar projetos de apelo popular, como a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Para isso, recorre ao ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), ainda influente nos bastidores.

O Centrão, por sua vez, mira em objetivos mais pragmáticos: preservar seus líderes de inquéritos da Polícia Federal e ampliar o espaço no governo. Para tanto, não hesita em se afastar de Bolsonaro. Condenado a 27 anos de prisão pelo Supremo, o ex-presidente ainda é um ativo político, mas já começa a ser tratado como moeda de troca. O gesto de “rifá-lo” não é definitivo: estrategistas do bloco calculam que precisam manter algum nível de aceno ao bolsonarismo, pois Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e aliado de Bolsonaro, segue como nome forte para 2026.

A insistência do PL em empurrar a anistia desde 2019 ganhou mais desgaste depois do “sincericídio” de Valdemar Costa Neto. O dirigente admitiu que houve um planejamento de golpe no Brasil, mas recuou dizendo ter sido mal interpretado. O estrago, no entanto, estava feito. Para muitos, o próprio Valdemar forneceu munição ao STF.

Na visão do partido, a anistia é vital para barrar a ação do ministro Alexandre de Moraes, que ainda conduz o inquérito das fake news. Aliados de Bolsonaro temem que o processo seja usado como ferramenta para inviabilizar candidaturas ao Senado. A aposta é simples: com maioria na Casa, poderiam até sonhar com um processo de impeachment contra Moraes.

Por ora, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já avisou que qualquer tentativa desse tipo morrerá no peito. Mas o futuro é incerto. Se o bolsonarismo conquistar cadeiras suficientes em 2026, o cenário muda. Como bem ironiza Vera Rosa em sua análise, “jabuti não sobe em árvore sozinho”. Em Brasília, tudo depende de quem está disposto a empurrar.

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