A morte do jovem conhecido como Vaqueirinho, de 19 anos, ao invadir o recinto de uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica), em João Pessoa, abriu uma nova frente de apuração que vai além do episódio em si. As autoridades levantam agora o histórico recente da vítima, a possível motivação para a invasão e eventuais falhas de monitoramento que possam ter contribuído para o desfecho trágico.
O secretário de Segurança Urbana e Cidadania, João Almeida, confirmou a identidade do jovem e detalhou que ele havia sido preso duas vezes na última semana, em menos de uma hora, por vandalizar dois caixas eletrônicos e atirar uma pedra contra uma viatura da Polícia Militar. A Polícia Civil acrescenta que ele já havia sido detido mais de dez vezes, sendo liberado recentemente para acompanhamento psicológico.
Perícia aponta possível ato suicida
A perícia inicial da Polícia Civil indica que o caso pode se tratar de ato suicida, tese reforçada pela forma como a invasão ocorreu. De acordo com a Prefeitura de João Pessoa, o jovem escalou uma parede de mais de 6 metros, ultrapassou grades de segurança, alcançou uma árvore interna e saltou deliberadamente para dentro do recinto da leoa.
A ação durou poucos segundos, impedindo qualquer intervenção efetiva das equipes do parque. O ataque foi imediato e fatal.
A Prefeitura afirmou que o recinto segue todas as instruções normativas do Ibama e que, inclusive, possui medidas de segurança além do exigido, com altura superior ao padrão e borda negativa de 1,5 metro para evitar escaladas.
Leoa passa por avaliação; animal estava em “choque comportamental”
Após o ataque, a leoa — que aparece com manchas de sangue nos vídeos — foi conduzida de volta à área de segurança sem o uso de tranquilizantes, segundo relato de um dos médicos-veterinários do parque.
O retorno só foi possível graças ao treinamento anual de condicionamento, que permite que os cuidadores acionem comandos de recolhimento em situações emergenciais.
O animal, porém, apresentou alto nível de estresse e choque, demorando a responder ao chamado. A equipe de manejo avalia a necessidade de acompanhamento comportamental ao longo da semana, mas assegura que, para o bem-estar da leoa, não haverá punição nem contenção adicional, já que ela agiu de maneira instintiva.
Apuração interna e novas linhas de investigação
A Semam abriu investigação interna para avaliar protocolos, cronologia da invasão e eventuais medidas adicionais de segurança. O foco, segundo o órgão, não é atribuir culpa a funcionários, mas compreender como um jovem com histórico de perturbação mental conseguiu insistir na escalada, mesmo com bloqueios físicos superiores às normas.
A Polícia Civil também trabalha na reconstituição do trajeto percorrido pelo rapaz dentro do parque, que estava aberto ao público no momento da ocorrência.
Além disso, as autoridades querem entender:
• se o jovem estava sozinho;
• se recebeu ou não acompanhamento após a liberação para tratamento psicológico;
• e se houve sinais prévios de comportamento autolesivo.
O parque foi fechado imediatamente após o episódio para a retirada do corpo, higienização da área e avaliação de riscos. A reabertura ao público dependerá da conclusão das primeiras análises técnicas.
O que já se sabe sobre a vítima
Vaqueirinho era conhecido na região do Centro e da orla de João Pessoa. Segundo relatos de comerciantes e visitantes do parque, ele permanecia com frequência nas imediações, com comportamento considerado errático.
As prisões recentes, somadas aos danos aos caixas eletrônicos e ao ataque à viatura, levaram a Polícia Militar a encaminhá-lo para atendimento psicológico, mas não há informação sobre se o tratamento chegou a ser iniciado.
Familiares estão sendo localizados para prestar depoimento e autorizar a remoção definitiva do corpo pelo Instituto de Polícia Científica (IPC).
Efeitos sobre o funcionamento da Bica
O episódio reacende o debate sobre segurança interna em zoológicos urbanos, especialmente em parques integrados à malha de circulação de pedestres, como é o caso da Bica.
O parque já havia reforçado estruturas há alguns anos, e a Prefeitura reitera que não houve falha técnica, mas um caso de ruptura extrema de limites físicos que, segundo especialistas, caracterizaria evento imprevisível.
A Semam informará, nos próximos dias, se haverá novos protocolos para visitantes, como revistas adicionais, reforço de vigilância ou câmeras em pontos de aproximação.