Enquanto o Palácio da Redenção, antiga sede do Governo da Paraíba, foi transformado em museu e símbolo da preservação histórica pela atual gestão estadual, outro espaço emblemático do Centro de João Pessoa segue esquecido: o Beco da Faculdade, também conhecido como Beco Gabriel Malagrida.
A restauração do Palácio da Redenção foi celebrada como uma das obras mais importantes do governo João Azevêdo. O prédio, que já foi palco das decisões mais relevantes da política paraibana, abrirá as portas para se tornar um museu da história do Estado. O investimento, contudo, reacendeu um debate: se há fôlego para recuperar o palácio, por que não voltar os olhos também para o pequeno e tradicional Beco da Faculdade de Direito?

Curto em extensão, mas amplo em significados, o beco liga a Rua Duque de Caxias a outras áreas do Centro Histórico. Com sua escadaria de inspiração lisboeta, o espaço já foi ponto de encontro de estudantes e professores da Faculdade de Direito da UFPB e mantém até hoje um valor sentimental para gerações. Além disso, é visto por artistas e historiadores como um espaço cultural em potencial, capaz de movimentar a cena artística local com música, literatura e artes visuais.
Desde 2005, movimentos como a Confraria do Beco da Faculdade e, posteriormente, a Associação Cultural e Recreativa Anjo Azul (ACRAA), vêm tentando manter viva a vocação cultural do lugar. Apresentações musicais, poesia, literatura e mostras audiovisuais se repetem mensalmente, provando que o espaço resiste pela força da sociedade civil. Mas falta o reconhecimento oficial.
O jesuíta Padre Gabriel Malagrida, que dá nome ao beco, foi figura importante na história religiosa e cultural do Brasil, com passagem marcante pela Paraíba. Transformado em mártir da Inquisição em Lisboa, ele empresta ao espaço uma densidade histórica que poucos logradouros da capital carregam.

Historiadores e ativistas culturais defendem que a prefeitura poderia, com investimentos relativamente baixos, transformar o Beco da Faculdade em área exclusiva para pedestres, com calçamento adequado, iluminação revitalizada, fiação subterrânea e estímulo a eventos culturais. O resultado seria um ganho enorme para o Centro Histórico, agregando ao roteiro cultural da cidade um ponto de encontro permanente para arte e memória.
Se o Palácio da Redenção ressurge como museu para guardar a história da Paraíba, o Beco da Faculdade pede apenas ser lembrado – e devolvido à população como espaço vivo de cultura e cidadania.