Uma reportagem exclusiva do Estadão revelou que a “química” entre Lula e Donald Trump não nasceu do acaso. Muito antes do abraço em Nova York, durante a Assembleia-Geral da ONU, emissários dos dois governos já costuravam discretamente encontros e trocas de mensagens. O jornal reconstituiu em detalhes como esse roteiro silencioso foi escrito, com reuniões reservadas, telefonemas e gestos calculados, pavimentando uma aproximação que pode reduzir tensões e evitar uma crise diplomática ainda maior entre Brasil e Estados Unidos.
O que se vendeu como uma surpresa de corredor foi, na verdade, resultado de semanas de preparação e cautela. Autoridades dos dois lados agiram com discrição para que a imagem do encontro não se perdesse em meio a resistências políticas internas, nem fosse implodida por setores interessados em manter o clima de confronto.
Linha do tempo da aproximação
Julho de 2024
• O chanceler Mauro Vieira se reúne discretamente em Washington com Marco Rubio, secretário de Estado de Trump, em escritório privado próximo à Casa Branca.
• O Brasil sinaliza não querer rivalizar com os EUA, mesmo dentro do Brics, e reforça gestos como o afastamento de Maduro e a não adesão à Nova Rota da Seda.
Março a Julho de 2025
• Missões empresariais e diplomáticas percorrem Washington. O embaixador Mauricio Lyrio viaja em missão climática e negociações difíceis.
• A embaixadora Maria Luiza Viotti intensifica contatos com assessores próximos de Trump, como Susie Wiles e Mike Waltz, e mantém diálogo com o vice-secretário Christopher Landau.
• Em 18 de julho, com a prisão domiciliar de Bolsonaro, Trump reage publicamente. O governo brasileiro atua para evitar escalada no STF e conter danos diplomáticos.
11 de setembro de 2025
• Enquanto o STF condena Bolsonaro a 27 anos de prisão, Geraldo Alckmin e Jamieson Greer (representante comercial dos EUA) fazem videoconferência.
• Foi a 12ª rodada de contatos comerciais, mas o pano de fundo era sondar reações à condenação de Bolsonaro e manter canais abertos, evitando tarifas adicionais contra o Brasil.
15 de setembro de 2025
• Richard Grenell, enviado especial de Trump, faz escala no Rio de Janeiro e encontra Mauro Vieira em um hotel.
• Grenell reforça a necessidade de manter os canais de diálogo e abre caminho para um encontro em Nova York.
16 de setembro de 2025
• Grenell segue ao Paraguai e encontra o presidente Santiago Peña, ampliando a costura diplomática.
18 de setembro de 2025
• União Brasil rompe oficialmente com o governo Lula, pressionando por saída de cargos. Esse contexto político interno aumenta a necessidade de Lula buscar uma agenda internacional positiva.
23 de setembro de 2025 – O dia do encontro
• Nos bastidores da ONU, Trump chega cedo, assiste ao discurso de Lula e deixa-se fotografar acompanhando atentamente.
• Lula opta por seguir à sala reservada dos chefes de Estado, em vez de ir direto ao plenário, criando o ambiente para o encontro.
• O gesto parece casual, mas fazia parte da coreografia previamente alinhada.
• No corredor, Lula e Trump se encontram, trocam abraços e reforçam publicamente a versão de “surpresa”, embora tudo estivesse cuidadosamente articulado.
Contexto e efeito político
O Estadão, que reconstituiu os bastidores com base em relatos de autoridades, mostra que a aproximação não foi improvisada.
• Empresários como Joesley Batista atuaram em Washington alinhados ao Itamaraty.
Bolsonaristas, liderados por Eduardo Bolsonaro e setores do movimento MAGA, tentaram sabotar os contatos.
• No entanto, a estratégia silenciosa deu resultado: Lula e Trump passaram a mostrar uma “boa disposição” que pode distensionar a relação entre Brasil e EUA, em meio a tarifas pesadas, condenação de Bolsonaro e risco de crise diplomática.