O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), viu sua autoridade ser testada nesta quarta-feira (6), quando a oposição bolsonarista transformou o plenário da Casa em palco de motim por mais de 30 horas. Para retomar o comando e garantir a realização da sessão, Motta precisou da ajuda decisiva de Arthur Lira (PP-AL), seu antecessor e padrinho político. Foi Lira quem articulou a eleição de Motta à presidência da Câmara, e foi ele quem demonstrou, na prática, que ainda manda — e muito — na Casa.
Com o respaldo de Lira, Motta conseguiu debelar o motim. A intervenção do ex-presidente foi fundamental para costurar o acordo com a oposição e abrir caminho para que o atual presidente reassumisse sua cadeira, após um dia e meio de tensão, impasses e empurra-empurra.
A cronologia dos acontecimentos
Terça-feira, 5 de agosto
• Por volta das 13h, deputados bolsonaristas iniciam a ocupação da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, impedindo o funcionamento normal da Casa.
• O mesmo movimento é replicado no plenário do Senado.
• Em esquema de revezamento, os parlamentares da oposição passam a madrugada no local. A Polícia Legislativa isola o espaço, autorizando apenas a entrada de congressistas.
• O objetivo da ocupação é pressionar pela votação da anistia aos condenados do 8 de Janeiro, o impeachment do ministro Alexandre de Moraes e restrições à atuação do STF.
Quarta-feira, 6 de agosto
• Durante todo o dia, Hugo Motta e Davi Alcolumbre (presidente do Senado) tentam negociar com líderes do PL e de outros partidos. As conversas acontecem nas residências oficiais, no Lago Sul, mas não avançam até as 20h.
• Motta anuncia que abriria a sessão às 20h30, mas as negociações travam novamente.
• Em meio ao impasse, Motta ameaça punir os deputados com suspensão de mandato por seis meses, mas adota tom mais conciliador na sequência.
• Às 22h21, após intensa articulação conduzida por Arthur Lira, Hugo Motta consegue atravessar o plenário, bloqueado por deputados bolsonaristas, e reassume sua posição na Mesa Diretora.
• Ele chegou a recuar ao não conseguir sentar-se na cadeira da presidência, que estava ocupada por Marcel van Hattem (Novo-RS). Após nova rodada de negociação, Motta é praticamente arrastado até a cadeira por Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), líder do partido.
• A sessão finalmente é aberta.
O desfecho
• Segundo o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), a liberação da Mesa ocorreu após um acordo para pautar dois projetos: a anistia aos acusados do 8 de Janeiro e o fim do foro privilegiado.
• A base governista, no entanto, afirma que o episódio revelou o isolamento do bolsonarismo e que não se pode ceder à chantagem. Houve consenso entre líderes de 17 partidos para que a pauta da Casa não fosse sequestrada por interesses de uma minoria.
A noite desta quarta-feira mostrou que, embora fora da presidência, Arthur Lira ainda exerce influência direta sobre os rumos da Câmara. Já Hugo Motta, mesmo com a cadeira, ainda precisa provar que tem o comando.