sábado, 13 de dezembro de 2025
Anúncio da Fatal Model na capa da Folha gera debate e confusão: crítica velada ou normalização do tabu?
08/06/2025 22:11
Redação ON Reprodução

Uma edição histórica — é assim que a plataforma de acompanhantes Fatal Model celebrou sua aparição na capa da Folha de S.Paulo, no último dia 2 de junho, data que marca o Dia Internacional da Prostituta. A publicidade foi estampada no cabeçalho da capa do jornal, com linguagem suave, institucional e sem imagens explícitas. Ainda assim, o gesto causou reações intensas e divididas. Entre as manifestações mais aguardadas estava a da ombudsman da própria Folha, Alexandra Moraes, publicada neste domingo (8). Mas seu texto trouxe mais ambiguidade do que clareza.

Na análise semanal, Alexandra evita se posicionar de forma explícita sobre a decisão editorial de publicar o anúncio. Seu texto oscila entre reconhecer a importância do debate sobre dignidade das trabalhadoras sexuais e registrar o desconforto de leitores, inclusive de anunciantes do próprio jornal, como a presidente do Instituto Liberta, Luciana Temer.

A ombudsman relata, por exemplo, que alguns leitores sequer perceberam que o anúncio se referia a uma plataforma de prostituição, confundindo o termo “acompanhantes” com “cuidadores de idosos” — o que revela, segundo ela, a suavidade proposital do conteúdo. Ao mesmo tempo, lembra que classificados com termos semelhantes existiram por décadas nos próprios jornais impressos, inclusive na própria Folha.

Entre os principais pontos da peça publicitária, estava a frase: “1.400.000 mães, filhas, irmãs e esposas. Esse é o número de profissionais que trabalham como acompanhantes no Brasil. Está na hora da gente falar sobre isso.” A ombudsman observa que a origem do número não é clara, mas reconhece que o anúncio defende uma pauta de respeito e combate ao preconceito, ainda que sob um verniz comercial.

O contexto comercial é, aliás, inevitável. A Fatal Model vem investindo pesado em visibilidade, com patrocínios milionários no futebol brasileiro, inclusive com uma oferta de R$ 250 milhões pelos naming rights da Arena da Baixada, do Athletico-PR. Mas é essa mesma visibilidade que motiva ações do Ministério Público Federal e de estaduais, como os de São Paulo e Alagoas, que tentam barrar a presença da marca em locais com acesso de crianças e adolescentes.

A ombudsman também menciona que, apesar das polêmicas, a cobertura jornalística da própria Folha tem sido, em geral, favorável à plataforma. A edição relembra que o jornal já tratou o site como um exemplo de legalidade, por não se enquadrar tecnicamente em exploração sexual, e noticiou sua expansão internacional e decisões estratégicas, como o rompimento com o podcast Flow após polêmicas com discurso nazista.

Mas nem tudo são flores. O texto relembra que veículos que criticaram a Fatal Model, como ICL Notícias e Repórter Brasil, relataram tentativas de intimidação, envio de notificações e até ataques digitais. A ombudsman não condena essas ações com firmeza, mas cita-as como parte do debate necessário.

No fim, a crítica mais explícita vem por meio de vozes como a de Luciana Temer, que afirma: “Aqui não vai nenhum julgamento moral de quem, por opção ou falta de, está exercendo esse trabalho. Mas nos incomoda muito que pessoas estejam ganhando dinheiro em cima disso”.

Entre o histórico e o inédito, a capa do dia 2 de junho será lembrada. Para a Fatal Model, um triunfo simbólico. Para a Folha, um marco ambíguo, que deixou sua própria ombudsman em cima do muro — mas que escancarou a necessidade de uma discussão mais honesta sobre prostituição, mídia, mercado e os limites da publicidade.

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