Após o STF definir que vai começar a julgar terça-feira (25) os núcleos principais da chamada “trama do golpe”, o fim de semana em Brasília ferveu com uma especulação que circula no entorno do Palácio do Planalto, e em rodas próximas ao presidente Luiz: ministros e aliados acreditam que Jair Bolsonaro pode deixar o país para evitar uma eventual prisão. E mais: alguns já falam abertamente numa espécie de “bolsa de apostas” sobre quando e como isso pode acontecer.
A movimentação recente de Eduardo Bolsonaro, que anunciou sua mudança para os Estados Unidos, abrindo mão do mandato de deputado federal, acendeu o alerta no núcleo político do governo. Para ministros de Lula, a saída do filho é estratégica: preparar terreno para uma fuga do pai.
“É um gesto típico de quem está pensando no plano B. E não é segredo para ninguém que o Bolsonaro teme ser preso”, disse um interlocutor do Planalto. “Eles estão montando um plano de saída silencioso, mas articulado.”
Embaixada da Hungria foi um “ensaio”
As suspeitas ganham ainda mais força quando se lembra do episódio em que Bolsonaro – em fevereiro de 2024 – passou dois dias hospedado na embaixada da Hungria, em Brasília. A visita, feita de forma discreta e revelada apenas dias depois, levantou a hipótese de que o ex-presidente teria tentado se refugiar no local diante de um alerta de prisão.
Segundo fontes do governo, a ida à embaixada teria sido motivada por um alarme falso, possivelmente disparado por alguém com acesso a informações privilegiadas da Polícia Federal. Na prática, o gesto foi lido como um teste de rota: como seria uma eventual fuga diplomática, dentro do território brasileiro, para ganhar tempo e proteção legal.
O gesto repercutiu internacionalmente e causou mal-estar, inclusive com setores do Itamaraty. Afinal, uma estadia em embaixada estrangeira por alguém investigado pela Justiça brasileira levanta questões diplomáticas sensíveis.
Para os ministros de Lula, a movimentação de Eduardo é o primeiro passo de uma estratégia mais ampla: tirar Bolsonaro do foco, afastá-lo fisicamente do Brasil, e possivelmente tentar transformá-lo em alvo internacional apenas se — e quando — uma ordem de prisão for oficialmente decretada.
Há quem diga que a fuga não seria para “desaparecer”, mas sim para buscar refúgio temporário, possivelmente em uma embaixada de países alinhados ideologicamente com o bolsonarismo, como Hungria ou Emirados Árabes.
Nos bastidores, a frase que tem circulado entre os mais próximos de Lula é direta: “Bolsonaro não será preso em casa, será preso longe — ou não será preso.”
A aposta está lançada. O tabuleiro político começa a se mover, e os próximos passos podem acontecer antes mesmo que qualquer ordem judicial seja emitida.