A morte do ex-volante Val Pilar, na madrugada desta quarta-feira, reacende uma reflexão que sempre faço com amigos da imprensa esportiva: precisamos homenagear os ídolos do esporte em vida. Precisamos mostrar a importância que tiveram em momentos históricos dos nossos times. E Val Pilar foi um desses.
Em 2002, ele travou um embate histórico com Kaká, que já vestia a camisa da Seleção Brasileira. O Treze venceu o São Paulo pela Copa do Brasil por 1 a 0. Capitão fez o gol, mas foi Val quem ganhou os holofotes. Antes do jogo, ele já dizia que iria parar Kaká. E parou, bem ao seu estilo: marcação forte, sem dar espaço, mas sempre com irreverência. “Vai pra lá que quem vai pra seleção é tu. Não vem pra cima que o coco é seco”, revelou em entrevista à ESPN.
Esse era o jeito de Val Pilar, dentro e fora de campo. Irreverente, cheio de histórias, sincero, simples. Nunca foi afeito à ostentação. Sua maior aquisição foi um fusca, comprado quando foi contratado pelo Sport. O jeitão Val Pilar de ser ganhou destaque até na Revista Placar. As dificuldades da vida ele tirava de letra, como os passes que dava em campo, incendiando a torcida. O recurso da “letra” nada mais era que uma forma de superar uma limitação: ele tinha dificuldade com a perna esquerda e não conseguia dar passes de canhota. E, quando a bola estava do lado esquerdo, o jeito era meter uma letra com a direita.
Convivi muito com Val na época do Treze. Eu era repórter da TV Borborema e editor de esportes do Diário da Borborema. Sempre que me encontrava, ele usava uma expressão para demonstrar carinho: “Faaala, bandido”. Logo em seguida, vinha o sorriso largo, um aperto de mão e um abraço. Foi assim também, talvez pela última vez, quando o reencontrei em 2008 ou 2009, numa reportagem que fiz na TV Paraíba/Cabo Branco, mostrando Val Pilar à frente de um projeto social que distribuía sopa para os mais carentes. A sopa era preparada por ele mesmo. Os dotes culinários, Val exercia no seu bar, que se dividia entre o bairro da Liberdade e um complexo de campos de futebol, onde ele servia aos atletas de fim de semana.
Gostaria de ter reencontrado Val Pilar mais uma vez. Prometi a mim mesmo que iria visitá-lo no “bar do racha”. Queria ter escrito um texto em homenagem a ele, ter produzido uma reportagem audiovisual com Val em vida. Só assim, esta nova geração de torcedores saberia da importância que ele teve para o futebol. Certamente, se o encontrassem hoje, com seu jeito despojado, cuidando do bar, muitos não imaginariam o quanto ele foi grande para o nosso futebol.
Falhei com Val Pilar. Farei de tudo para não falhar mais com tantos outros ídolos do nosso futebol que continuam vivos e que precisam ser eternizados em reportagens.
- Léo Alves é jornalista e professor da UEPB.