O bicentenário do Diario de Pernambuco ganhou, na sexta-feira (7), um capítulo que sintetiza a própria narrativa do jornal ao longo de dois séculos: memória, documento e testemunho. Em solenidade no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), foi finalmente aberta a cápsula do tempo lacrada em 1925 – selada há 100 anos, durante as comemorações do centenário da publicação. Todas as informações, datas e referências sobre o conteúdo vieram do próprio Diario de Pernambuco, que registrou os bastidores da abertura e o inventário do que estava guardado.
O conteúdo surpreendeu pela integridade. Segundo o Diario de Pernambuco, estavam ali objetos que representavam a vida cotidiana e o ambiente editorial de cem anos atrás: abridor de cartas, caneta, jornais originais da própria edição centenária e anotações manuscritas que preservam a visão particular de um colaborador daquele tempo histórico. Entre os destaques, chamou atenção a carta de Narsson Figueiredo, que relata, em primeira pessoa, sua trajetória desde a infância no interior até a vida profissional no Recife e seu vínculo com o universo do impresso. O documento estava ao lado de fotografias da família, de imagens do mobiliário utilizado pelo jornal e até referências à Confederação do Equador.
A abertura da cápsula exigiu cuidado quase cirúrgico. A peça, construída em madeira de cedro, estava parafusada e reforçada por arames. Foi preciso desmontar camada por camada, porque não havia certeza se a tampa estava presa por rosca ou encaixe. No fim, a cápsula teve de ser aberta ao meio para que o conteúdo pudesse ser efetivamente retirado.
A sala ficou lotada. A cerimônia, presidida por George Cabral, titular do IAHGP, reuniu historiadores, autoridades, dirigentes do Diario de Pernambuco e representantes de instituições acadêmicas e culturais. Quem ficou do lado de fora acompanhou tudo por transmissão. Foi um público mais numeroso do que se esperava, reflexo natural da carga simbólica de testemunhar um século se abrindo diante de nossos olhos.
O Diario de Pernambuco – que é o jornal mais antigo em circulação da América Latina – voltou a fazer história ao recuperar aquela que já era, desde 1925, uma cápsula montada para a posteridade. E que, novamente, cumpriu sua missão. Como fonte, como documento e, sobretudo, como prova de que a imprensa também se arquiva no próprio tempo.