Prometeram o céu, entregaram o inferno. Quando se transformou em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), o Botafogo da Paraíba virou manchete nacional. Empresários chegaram prometendo investimento pesado, contratações de ponta e um salto de patamar. O objetivo declarado era levar o Belo à Série B — quem sabe até mais. Mas hoje, ocupando a 17ª colocação na Série C, com apenas 30% de aproveitamento, o clube amarga a zona de rebaixamento e vive sua fase mais constrangedora dos últimos anos.
O contraste com a temporada passada não poderia ser mais gritante. Em 2024, ainda sob o regime associativo, o Botafogo liderou praticamente toda a primeira fase da Série C com um time enxuto e competitivo. Agora, em 2025, mesmo com uma folha salarial turbinada e promessas de investimento na casa dos milhões, o time sequer consegue sair da parte de baixo da tabela.
A transição para SAF foi aprovada em Assembleia Geral no fim de dezembro de 2024. O contrato firmado com os investidores Lucas Franzato e Celso Colombo prevê um aporte de R$ 300 milhões ao longo de 15 anos, com aquisição de 90% da sociedade do clube. Ao Botafogo-PB restaram 10% da SAF e o direito de receber aluguéis pela cessão do CT da Maravilha do Contorno.
A expectativa era de uma revolução. Na prática, veio o colapso. Contrataram Alexandre Gallo, um diretor com passagens por grandes times do país, e também o técnico Antônio Carlos Zago, com experiência internacional. Deu tudo errado. Zago foi embora cedo e Gallo dificilmente permanecerá.
Segundo levantamento do site ApexxSoccer — perfil no Instagram especializado em divulgar folhas salariais de times brasileiros — com dados obtidos por meio de documentos internos, o elenco atual tem custo estimado em R$ 371 mil mensais, certamente um dos maiores da história recente do clube.
Os salários dos caras
• Walace – R$ 12 mil
• Guilherme – R$ 8 mil
• Michel – R$ 10 mil
• Marcelo Augusto – R$ 8 mil
• Evandro – R$ 8 mil
• Rafael – R$ 15 mil
• Erick – R$ 10 mil
• Sidney – R$ 10 mil
• Wendell – R$ 20 mil
• Diego – R$ 15 mil
• Lucas Lopes – R$ 15 mil
• Rene – R$ 25 mil
• Igor – R$ 10 mil
• João Pedro – R$ 15 mil
• Rama – R$ 15 mil
• Camilo – R$ 20 mil
• Talisson – R$ 20 mil
• Henrique Dourado – R$ 20 mil
• Gabriel – R$ 25 mil
• Rafinha – R$ 25 mil
• Rodrigo – R$ 25 mil
• William (2º) – R$ 20 mil
• Silvinho – R$ 20 mil
Total estimado da folha: R$ 371 mil/mês
Nesta segunda-feira (7), o Belo volta a campo no Almeidão para enfrentar o São Bernardo, atual 9º colocado da Série C, em um jogo que pode ser decisivo para suas pretensões de permanência. No domingo (13) recebe o Londrina, que está no G-4. O risco de rebaixamento é real — e crescente.
A pergunta que ecoa entre os torcedores é uma só: como um time tão caro pode render tão pouco? A resposta, dizem os críticos, está na gestão. “Contrataram mal, empilharam nomes caros sem critério técnico e se afastaram da identidade do clube”, afirma um ex-dirigente ouvido sob reserva.
O caso do Botafogo-PB é um retrato de advertência: SAF não é fórmula mágica. Sem planejamento, comando técnico qualificado e sintonia com a cultura local, o projeto pode desmoronar — e arrastar junto o orgulho de uma torcida.