sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Título da Copa América na altitude: enquanto eles reclamam do ar, elas respiram futebol
03/08/2025

A final da Copa América Feminina entre Brasil e Colômbia foi daquelas partidas que não apenas entregam emoção, mas também desconstruções. O que se viu em Quito, a mais de dois mil metros de altitude, foi mais do que uma disputa por taça. Foi uma aula. De futebol, de resiliência e de grandeza.

Primeiro, é preciso dizer o óbvio: disputar uma final em uma cidade como Quito é uma insanidade. Uma irresponsabilidade da Conmebol e da Fifa, que tratam a altitude como detalhe exótico. Só que os europeus não fazem ideia do que é jogar onde falta ar. E, no entanto, as mulheres deram conta. Jogaram várias vezes lá — e o Brasil venceu todos, inclusive a final, decidida nos pênaltis após um empate heroico.

Enquanto os homens vivem tropeçando na altitude da Bolívia ou do Equador, mesmo com preparadores de ponta e salários milionários, as meninas correram, marcaram, se entregaram. Com raça, disciplina e uma disposição física e emocional que deveria envergonhar muito marmanjo da elite do futebol masculino.

E no centro dessa epopeia está ela: a sergipana Marta Vieira da Silva, 39 anos, seis vezes melhor do mundo, um mito em chuteiras. Guardada no banco como trunfo, entrou no segundo tempo da final, fez o gol do empate, virou o jogo, levou a partida para os pênaltis. Perdeu a cobrança? Sim. Mas foi no discurso após o erro que ela mostrou por que está num patamar onde só Pelé respira junto.

Com humildade e serenidade, ela explicou o que sentiu, sem se esconder, sem teatrinho. Marta é nossa heroína nacional, sem exagero nem necessidade de comparação — mas, se for para comparar, que se diga: em termos de grandeza e representatividade, só Pelé está ao seu lado.

O jogo ainda teve outro símbolo de quebra de preconceitos: a narração feminina. Renata Silveira comandou a transmissão na Globo com autoridade, leveza e emoção. E ainda há quem critique a presença de mulheres no microfone — provavelmente os mesmos que acham que futebol feminino é “mais fraco”. A transmissão foi um golaço. Quem ainda não se acostumou com vozes femininas narrando futebol está preso no século passado.

E que ironia, não? A mesma Globo que esnobou a Copa América Feminina de 2022 — quando o SBT exibiu a final Brasil x Colômbia e conquistou bons números — agora surfou na audiência e no faturamento. Os dados oficiais ainda não saíram, mas é evidente que a emissora estourou. Porque as pessoas querem ver futebol bem jogado. Independentemente de gênero.

O que as meninas da seleção mostraram neste sábado é que o futebol, quando jogado com o coração, entrega muito mais que troféus. Entrega exemplo. E quem acha que essa conquista foi só mais uma taça, precisa rever os conceitos — e talvez rever o jogo.

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