No tempo de Sargento Getúlio, criação genial de João Ubaldo Ribeiro, recambiamento era na sola do pé: sertão adentro, poeira na boca, sol na moleira e preso amarrado com corda de sisal. O sargento atravessou da Bahia a Sergipe, a pé, firme no cumprimento da ordem, sem diárias, sem passagens aéreas e muito menos prioridade de embarque.
Hoje, a modernidade chegou até ao cárcere: influenciador digital e marido embarcam em voo regular, com direito a prioridade no embarque.
Dois policiais civis foram destacados para a missão, mas não pense o leitor que viajam de primeira classe. Nada disso: ficam lá no fundão do avião, espremidos como sardinha. Já os presos, esses sim, terão a honra de passar na frente, como se fossem ministros voltando de missão oficial. Afinal, a fila é para os mortais, não para celebridades do escândalo.
O custo da operação — passagens, diárias, deslocamentos, cafezinho de aeroporto — sai da conta da Secretaria de Segurança. É o contribuinte quem banca a excursão, como se fosse pacote turístico de fim de ano. Ao invés de trazer progresso, traz de volta dois hóspedes ilustres para as dependências do Estado.
Se fosse Getúlio quem comandasse, a viagem teria outro ritmo: dias e noites de caminhada, canga no ombro e, de quando em vez, uma paradinha para o cabo puxar um fumo de rolo. O preso chegava cansado, mas chegava. E sem nota de hotel para assinar.
Mas os tempos mudaram. Agora, o espetáculo é outro: aeroporto, luzes, câmeras e manchetes. O crime, que um dia foi vergonha, virou quase passarela. E a sociedade, perplexa, aplaude de pé o mais novo reality show: Recambiados em João Pessoa.