É difícil colocar em palavras o que representa para o futebol brasileiro a façanha do Fluminense neste Mundial de Clubes. Difícil não pelo tamanho do feito, mas pelo que ele provoca nos outros. Porque, sejamos honestos, o Tricolor das Laranjeiras chegou aos Estados Unidos como coadjuvante de luxo. Dos quatro brasileiros classificados – Botafogo, Palmeiras, Flamengo e Fluminense – o time carioca era o que inspirava menos confiança. Mas o que o Fluminense tem provocado mesmo é inveja.
A inveja, aliás, é o sentimento mais genuinamente brasileiro no momento. Disfarçada de ironia, escamoteada em análises frias, revestida de silêncio cúmplice, ela pulsa nas entrelinhas das redes sociais, nos comentários de bar e nas mensagens cifradas dos rivais.
Mas essa inveja não é apenas futebolística. Ela é também financeira. Em apenas 30 dias, o Fluminense embolsou R$ 329 milhões em premiações – uma quantia que supera com folga todo o valor conquistado pelo Botafogo, campeão da Libertadores e do Brasileirão em 2024. O alvinegro carioca, que viveu no ano passado uma temporada quase perfeita no calendário sul-americano, acumulou premiações que somam cerca de R$ 261 milhões. O Flamengo, que faturou a Copa do Brasil, alcançou R$ 178 milhões.
Não é exagero dizer que o Fluminense está entre os clubes mais rentáveis do planeta neste momento. Só pela vaga na semifinal do Mundial, o time de Renato Gaúcho garantiu US$ 21 milhões, algo em torno de R$ 113 milhões. Nenhum jornalista, cartola ou vidente brasileiro havia projetado isso antes da Copa da Fifa. Nem mesmo seus torcedores mais apaixonados.
E aí entra outro fator incômodo para os rivais: a narrativa da superação. Porque o Fluminense que brilha hoje é aquele que foi ridicularizado por não ter elenco forte, que sofreu gozações por levar veteranos como Fábio (44) e Thiago Silva (40) para uma competição de alto rendimento. Agora o tricolor está com moral, com dinheiro e com reconhecimento. E tudo isso é difícil de engolir para alguns rivais que certamente se consideram maiores ou mais estruturados.
Por isso, o incômodo é inevitável. O Fluminense está onde ninguém esperava – e fazendo o que ninguém acreditava. Isso não apenas alimenta a torcida tricolor, mas fere o ego dos outros. Porque no Brasil, o sucesso do outro, quando é inesperado, incomoda mais do que qualquer derrota pessoal. O Fluminense fez história. E provocou algo ainda mais raro: uma inveja nacional inconfessável – mas absolutamente palpável.
