Nesta quarta-feira (23), sentei para assistir a Cruzeiro e Corinthians, sem saber exatamente o que esperar. Mas saí com uma certeza: há muito tempo o futebol não nos contava uma história tão simbólica como a do Cruzeiro.
Após o 0 x 0 com o Timão, a Raposa mineira, líder do Campeonato Brasileiro, mostrou em campo algo que vai além da tática e da técnica: maturidade. Vi um time consciente, seguro do que quer e — mais importante — do que é capaz. Vi um clube que, depois de afundar em sua pior crise, parece ter reencontrado sua identidade. E é impossível não comparar esse momento com o do seu maior rival.
Em 2021, enquanto o Atlético Mineiro vivia o ano mais glorioso de sua história — com uma Tríplice Coroa reluzente que incluiu Brasileiro, Copa do Brasil e Campeonato Mineiro — o Cruzeiro vivia um pesadelo na Série B. Era o fundo do poço. Foram mais de 1.200 dias fora da elite, com direito a vexames, dívidas impagáveis e uma torcida desacreditada.
Mas o futebol é cíclico — e cruel com os que esquecem disso.
Hoje, o Cruzeiro colhe os frutos da reconstrução. Ronaldo Nazário, bem ou mal, foi o condutor inicial dessa remontada. Comprou o clube, tirou-o da Série B e depois passou o comando em 2024 para Pedro Lourenço, o milionário empresário mineiro que injetou muita grana para formar um elenco de primeiro escalão. Hoje o Cruzeiro voltou a ser respeitado.
Enquanto isso, o Atlético Mineiro se vê às voltas com salários atrasados, processos judiciais e um ambiente político instável. O mesmo clube que parecia ter encontrado um atalho para a glória eterna agora se vê mergulhado numa crise que ameaça sua base esportiva e institucional.
Essa virada do Cruzeiro serve como lição para todos. Clubes como Corinthians e Vasco, por exemplo, que hoje convivem com o caos técnico e administrativo, podem olhar para o Cruzeiro e enxergar uma possibilidade de renascimento. O torcedor que hoje teme ver seu time virar uma nova Portuguesa ou um novo América-RJ (só para citar dois exemplos) precisa lembrar que nenhum gigante está condenado ao fracasso eterno — desde que enfrente sua crise com coragem, profissionalismo e visão de futuro.
A reviravolta do Cruzeiro é mais do que uma boa campanha no Brasileirão. É uma aula sobre resiliência. E um lembrete: no futebol, nada é para sempre. Nem a glória, nem a desgraça.