Nessa longa caminhada dentro do futebol, uma situação sempre me chamou a atenção, que é a diferença de postura entre homens e mulheres quando há atrasos no pagamento do salário e premiação.
No futebol brasileiro, os atrasos salariais e nas premiações infelizmente ainda são uma realidade, mas o impacto na mídia e a reação dos atletas variam conforme o gênero.
Quando se trata dos homens, é comum ver jogadores se posicionando publicamente, cobrando seus clubes na imprensa e exercendo pressão direta, com notificação extrajudicial cobrando o atrasado e informando que sem pagamento não jogariam.
Já no futebol feminino, essa postura de cobrar publicamente é mais rara. Não por falta de motivo, mas por receio.
As jogadoras enfrentam um duplo desafio: além da desigualdade salarial, que impede de terem uma reserva de emergência, lidam com a insegurança de perder espaço no mercado de trabalho ou represálias como serem colocadas para fora do alojamento do clube e terem o custo do retorno para seus lares. Ao denunciarem atrasos.
Mesmo quando o empregador é o mesmo clube, o tratamento e as consequências não são iguais.
A lógica por trás disso é puramente mercadológica: o clube teme mais perder um jogador, que pode render lucro em transferências, do que uma atleta, cujo desligamento dificilmente traz retorno financeiro.
Essa realidade dividida evidencia um problema estrutural, não só no futebol.
Não se trata apenas de justiça trabalhista, mas de respeito profissional. Se os compromissos com atletas do masculino são cobrados com firmeza, na mídia e na justiça, e geralmente resolvidos com mais agilidade, por que o mesmo não vale para o feminino?
A resposta está na valorização do elenco feminino. Pois enquanto o futebol feminino for tratado como “menor”, como uma obrigação para que o elenco masculino dispute campeonato, e não uma fonte de renda e de glórias os atrasos seguirão sendo normalizados.