sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Diagnóstico tardio compromete tratamento de câncer de cabeça e pescoço
28/07/2025

Neste domingo (27) foi o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, que engloba tumores que acometem a cavidade oral, faringe, laringe, cavidade nasal e a glândula tireoide. Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o Brasil é um dos principais países do mundo em número de casos desse tipo de câncer.

O estudo “Disparidades no estágio do diagnóstico de tumores de cabeça e pescoço no Brasil: uma análise abrangente de registros hospitalares de câncer”, publicado na The Lancet Regional Health Americas e conduzido pelo Inca, mostra que cerca de 80% dos tumores de cabeça e pescoço diagnosticados no Brasil entre 2000 e 2017 foram identificados em estágios avançados.

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A detecção tardia da doença pode comprometer as chances de tratamento e cura. Luís Pires, coordenador da Residência Médica em Oncologia Clínica e professor da Faculdade de Medicina da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) aponta que a identificação nos estágios iniciais da doença é o fator de maior sucesso para o tratamento e as maiores chances de cura e de preservação da qualidade de vida do paciente.

“Mas existem algumas barreiras à detecção precoce, como o desconhecimento dos sintomas pela população, negligência de sinais iniciais, medo do diagnóstico e demora no encaminhamento pelo sistema de saúde”, explica Pires.

Os dados do Inca revelam que esse tipo de câncer é mais comum em homens com cerca de 60 anos, mas os pacientes mais jovens são os que têm mais chances de ter a doença em estado avançado. Luiz Paulo Kowalski, líder do Centro de Referência em Tumores de Cabeça e Pescoço do A.C. Camargo Cancer Center, afirma que hoje o padrão de incidência não é exclusivo de homens que bebem e fumam.

“Hoje nós temos uma incidência também alta em mulheres, em uma população mais jovem que não fuma e que não bebe e que está apresentando câncer da boca, principalmente na língua ou na garganta”, afirma. Os tumores que não estão associados ao álcool ou ao tabaco –principais fatores de risco– podem estar ligados ao vírus do papiloma humano (HPV), além de má higiene bucal e alimentação não saudável, diz o médico.

Kowalski diz que, nos últimos anos, houve um aumento expressivo de diagnóstico de câncer de tireóide, o mais frequente câncer de pescoço e cabeça nas mulheres. Segundo o médico, isso se dá principalmente pela realização de exames de rotina, o que não é recomendado.

“O problema desses exames de rotina é que eles diagnosticam nódulos que muitas vezes nunca trariam problema para os pacientes”, afirma o médico. “Então, a recomendação é se existir algum antecedente ou algum nódulo palpável. Sob o ponto de vista de saúde pública, não se pode recomendar o exame de rotina.”

O estudo do Inca também encontrou uma relação entre níveis socioeconômicos, escolaridade e a prevalência do câncer de cabeça e pescoço, revelando que pessoas sem ensino básico possuem 17% mais chance de diagnóstico em estado avançado.

Os especialistas concordam que a elucidação do que é o câncer de pescoço e cabeça para a população, além da importância da prevenção, detecção e tratamento precoces são fundamentais para transformar esse cenário.

Christiane Brito, 45, começou a sentir muitas dores de garganta. Procurou especialistas, fez diversos tratamentos com antibióticos, e não via nenhuma melhora. Foi apenas após visitar um médico de cabeça e pescoço e fazer uma ressonância magnética que descobriu um tumor maligno na língua.

“A única possibilidade de tentar a cura seria com a retirada total da língua. Receber essa notícia foi devastador. Na hora, só conseguia pensar nos meus filhos e na minha família”, contou por escrito, já que a sua fala foi prejudicada após a cirurgia. Brito foi submetida à glossectomia total, ou seja, a retirada total da língua.

Os prejuízos não foram só pessoais, mas profissionais. Ela, que é consultora de relacionamento de um plano de saúde, não faz mais visitas ou negociações, ficando apenas respondendo emails. Além disso, não foi aceita em nenhum outro departamento da empresa.

Ela conta que foram meses de treinamentos intensos para reaprender a falar, respirar e engolir, e que a alimentação ainda é a maior dificuldade no convívio social.

“Em determinado momento, enfrentei uma depressão profunda”, diz. “Foi quando as médicas me convidaram para participar do coral que tem no A.C. Camargo.” Mesmo com as limitações, ter a reinserção social por meio do coral a ajudou a recomeçar.

Luiz Henrique Araujo, diretor regional da Oncologia Américas do Rio de Janeiro, diz que os sintomas de infecções respiratórias, gripes ou caroços no pescoço que não melhoram após uma inflamação devem ser olhados com cautela. “Outros sinais e sintomas são rouquidão, dor para engolir ou dor para respirar.”

Sintomas como feridas na mucosa que não cicatrizam e nódulos também podem surgir nos estágios iniciais da doença. “É necessário evitar tabaco, consumo excessivo de álcool, se vacinar contra o HPV e manter boa higiene bucal e dieta rica em antioxidantes”, diz Henrique Galvão, oncologista da Dasa Genômica.

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