Por Ademilson José
Especial para ON
Quem ouve e, principalmente, quem também já fez ou participou de algum, haverá de concordar: não há nada mais desorganizadamente organizado que um programa de rádio. Se é bom ou ruim, isso depende do ponto de vista de cada um e não vai ao caso por aqui.
O fato é que nele, num programa de rádio, tudo é possível e pode acontecer. Tudo se encaixa e é permitido e, se não for, às vezes não dá mais tempo ajeitar e fica por isso mesmo. E enfim, quer queira quer não, até mesmo pelas facilidades de tecnologia do veículo, é o mais utilizado pela grande maioria da população e, pelos mesmos motivos, também o primeiro e mais rápido na notícia, isso porque, além do radialista, o próprio ouvinte pode ligar e dar o “furo jornalístico”.
E é até mesmo em homenagem a esses detalhes e a essas peripécias do rádio que, a partir de agora, onorteonline vai tirar um dia da semana para transformar em texto, em palavra escrita, o áudio inteiro ou quase inteiro (na pior das hipóteses, os grandes momentos) de um dos badalados programas de rádio da cidade.
E sem desmerecer os demais – o critério foi espontâneo -, estamos começando com o “Paraíba Agora” que abre as manhãs da Rádio POP de Mangabeira. Trata-se, entre os que estão no ar, de um dos mais antigos, considerando ser continuidade do “Arapuan Verdade”, criado e apresentado pelos jornalistas/radialistas Adelton Alves e Edmilson Pereira.
Com mais de 30 anos no batente, os dois atendem e cumprem como ninguém o moído diário do programa de rádio. E, como todos os dias, nesta sexta-feira (20) começaram calmos e meio sisudos dando as últimas e principais notícias do dia, mostrando as manchetes dos grandes jornais locais e nacionais e, claro, já pontuando àquelas que certamente iriam dar o que falar durante o programa.
Como “grandes repórteres” que acabam sendo, os ouvintes, ao que se percebe na rapidez com que chegam, parece que já ficam na espreita para participar, uns com informações muito importantes, outros com apenas recados e abraços, não faltando também aqueles provocadores e colecionadores de fofoca que no mais das vezes terminam provocando gargalhadas.
Essas participações tem de ter hora mesmo, caso contrário, os apresentadores não ficam com tempo nem para os comerciais que sustentam a eles e à emissora. Aliás, além de aprenderem com os próprios radialistas, tem ouvinte que fica ligado somente para jogar algum veneno. Assessores de políticos disfarçados de ouvintes também disputam preciosos minutinhos para atacar adversários.
Por causa de tudo isso, os Governos (estadual e municipal) mantem “Rádio Escuta” para anotar tudo o que pedem ou falam deles, constituindo, assim, uma cadeia de comunicação em conflito e em troca de ideias que muitas vezes nem chega a ser imaginado pela grande maioria daqueles ouvintes de boa-fé, aqueles que se ligam somente com intuito de se informar, de sentir o que anda acontecendo na cidade.
Iniciado às 6 da matina, o programa da sexta-feira já deu conta da alta constante do dólar como um problema que anda afetando a economia e encaminhando o Governo Lula para um possível desgaste, somando-se a esse assunto, a aprovação do projeto que prevê novos limites de gastos públicos em caso de déficit. Os deputados da Paraíba que acompanharam foram listados, mas os efeitos disso só vieram a animar mesmo os programas de rádio no horário do meio dia.
Pela manhã, quando anunciava a internação do jornalista Jonas Batista que havia sofrido um infarto, o programa Paraíba Agora começou a apontar para outras duas polêmicas que andam tomando corpo no noticiário do estado. Trata-se da assembleia geral que os conselheiros realizaram na manhã do sábado (21) para transformar o Botafogo da Paraíba em SAF e a candidatura do deputado estadual Tião Lucena a uma vaga no Tribunal de Contas.
Ajudados pela participação do radialista Gutemberg Cardoso, Adelton e Edmilson Pereira partiram das projeções de que a assembleia podia registrar confusão porque alguns conselheiros estariam se queixando de que diretores do clube andam “escondendo as regras do contrato”. A provocação que não demorou a ganhar uma certa adesão bancada do programa e de ouvintes que depois ligaram.
Sobre a candidatura de Tião, a especulação trazida também por Gutemberg Cardoso dava conta de que, pelo que se viu nas suas últimas entrevistas, o governador João Azevedo não anda apoiando abertamente o nome do parlamentar de Areia. Que ele tem sido reticente à postulação. Edmilson Pereira concordou logo depois explicar que a vaga é da Assembleia, o plenário da Casa é que aprova, mas que não é obrigado que o nome seja deputado.
“Pode ser Ronaldo Guerra, Nonato Bandeira…”, arriscou, Pereira, momento depois de Adelton voltar e tratar do caso Jonas Batista, explicando que o radialista estava realmente no Hospital Santa Isabel e não no memorial São Francisco como havia noticiado antes. Como costuma fazer fora do horário formal do comercial, Adelton desvia e leva alguns minutos falando do supermercado Mix Mateus e da construtora Transpectro. Indo para Mamanguape, o ouvinte Marcone Nóbrega manda um alô e um abraço. Como tem abraço em programa de rádio… em todos!
Durante sua passagem pelo programa, Gutemberg Cardoso também aproveitou para alertar o atual e o prefeito anterior de Campina Grande, Artur Cunha Lima e Romero Rodrigues para o fato de que a cidade anda perdendo àquela pujança econômica que esbanjava em décadas anteriores. Informou também que esteve em Santa Rita e gostou do que viu na festa de diplomação de Jackson (prefeito) e dos vereadores eleitos da cidade.
O produtor da Marimbondo ganhou um espaço e anunciou que, completando 24 anos no mercado, a cachaçaria prepara uma campanha que levará o produto a ter diversos sabores e que vai bombar em janeiro. O ouvinte Cleiton Medeiros liga somente para dizer que é viciado no programa e, logo depois dele, Adelton Alves retoma o microfone para mais uma propaganda no horário das notícias.
Exalta o plano Funasa Saúde que tem a empresária Danielita como presidente, revela que a empresa é uma das patrocinadoras do programa e, logo depois dele, um ouvinte identificado como Jaburu liga para meter o pau na alta do dólar. Germano do bairro do Róger também liga e também se diz viciado no programa.
Ajudado por Clilson Jr., Adelton atualiza informações sobre o estado de saúde do radialista Jonas Batista e, em tom de homenagem, solta um áudio com o saudoso Anacleto Reinaldo rebatendo um ouvinte com um monte de palavrãos impublicáveis. Aos risos, Adelton comenta: “fazendo isso hoje num rádio, o cara seria preso…”
Aqui não temos rigorosamente tudo, claro, mas espaços mais marcantes do programa que, antes de terminar, não poderia fugir àquelas policiais da pesada que no Paraíba Agora ficam a cargo de Flávio Fernandes. Ele disse que na noite anterior, uma operação da PF prendeu um traficante no Taliban e que Taliban (pasmem!) é uma comunidade na Praia do Jacaré; que em Montadas, sob crise de ciúme, um homem tentou matar a mulher; que também na noite anterior, houve incêndio sem vítima numa empresa de Marketing em Mangabeira; e que, por abusar de um adolescente, um curandeiro foi preso na cidade de Queimadas. “Safado”, comentou Adelton Alves.
Rádio é assim, é como o jazz da música americana: no improviso. Puro improviso. É muita notícia, mas também muita especulação e projeção ligeira. Coisas que podem ou não acontecer, mas que, no geral, funcionam no ritmo da conversa do povo. Como os destaques foram dois assuntos, vamos ver então o que acontece com a SAF do Botinha e quais vão ser os próximos passos da campanha do deputado Tião Gomes ao TC.
* Texto atualizado e reeditado as 19h deste sábado (21).