Por Zé Euflávio
As melhores histórias do mundo são anônimas e surgem quando menos se espera. Elas nascem das mais variadas situações e são frutos das mais variadas mentes. Vêm da Índia, da China, da África, dos lugares mais distantes e de tempos longínquos. São histórias engraçadas, inteligentes e, muitas vezes, misteriosas.
Mas, como disse Baudelaire: “A imaginação é a Rainha do verdadeiro”, e o contrário também é exato. Então, meus amigos e amigas, bem-vindos ao maravilhoso mundo das histórias, onde “uma história inventada deve parecer verdadeira, e uma história verdadeira deve parecer inventada”.
Porque Antônio Arara, morador da Serra Branca, era poeta, tribuno, e um homem muito curioso em aprender as coisas. Todos os sábados passava na casa de Solon Bastos para pegar a coleção do jornal Correio da Paraíba. Era um leitor feroz e crítico.
Tinha a mania de participar de enterros para homenagear o morto, fosse ele rico ou pobre, preto ou branco, com um discurso. Usava um português arcaico com termos como: “Ninguém tolera mais a esquizofrenia da Morte em levar desta terra pessoas tão puras e boas”.
Mas, o ex-prefeito Felizardo Teotônio Dantas morreu e na hora do sepultamento, o padre encomendando o corpo, o poeta pediu a palavra e valeu-se dos versos de Lourival Patriota para homenagear o amigo.
“Já vimos pelo princípio/O que fez e o que faz/É justo, íntegro e capaz/Governando o município/Quem recorda o particípio/Vê que mudou de figura/Na sua gestão segura/Só fez praticar o bem/Nosso município teve/Um prefeito a toda altura”.
O povo aplaudindo, o padre adverte o orador sobre o tempo. Arara se empolga, apanha um punhado de terra, joga para cima e continua sua oração.
“Terra miserável, terra condenada, mal-feitora e bruta; tu vais comer a carne, mas não comerás a bondade, o coração justo e servidor deste. Terra filha de uma quenga, vá à merda”.
O padre tomou a palavra e mandou sepultar Doutor Felizardo. Arara foi para a bodega de Zé Paulo tomar uma lapada e saber da repercussão do discurso.