- Por Zé Euflávio
Um homem foi a pé até Chartres, na Idade Média, e no caminho encontrou um senhor que exercia o mais duro dos ofícios: quebrador de pedras.
– Vivo como um cão – o homem lhe disse. Exposto à chuva, ao vento, ao granizo, ao sol, faço um trabalho penoso, e por alguns trocados. Minha vida é uma nulidade. Ela não merece o nome de vida.
Um pouco mais longe, o mesmo homem encontra outro quebrador de pedra, que tinha uma atitude totalmente diferente.
– É um trabalho duro – ele lhe disse -, é verdade, mas, pelo menos, é um trabalho. Ele me permite alimentar minha mulher e meus filhos. E porque trabalho ao ar livre vejo passar o mundo, não me queixo. Existem situações piores que a minha.
Enfim, um pouco mais longe, o homem encontrou um terceiro quebrador de pedras, que lhe disse, olhando-o nos olhos:
– Quebrando pedras, eu construí uma catedral.
Quer dizer: não existe ofício ruim, depende do ângulo como você enxerga as coisas. A pessoa é para o que nasce, já ensinava as ceguinhas dez Campina.
Porque Batista morava na Aroeira, casou-se com Dona Maria e mudou-se para a cidade, onde montou uma alfaiataria numa parte da sua casa ao lado da Igreja Nova. Era um excelente alfaiate e só fazia roupa de homem.
Para o negócio, o poeta Solon Bastos Cavalcante criou o slogan: “Deus fez o homem; Batista faz a roupa”. Foi aprovado. Agamenon Caica, o nosso melhor pintor, foi constatado para pintar a frase na parede branca.
Mendinho, como era conhecido o pintor Agamenon, pintava tão divinamente bem, que uma vez pintou um quarto de bode no Açougue de Antônio Queiroz e uma mosca pôs em cima. Eurinete Jesus, Ana Maria Jesus, e Maria Vilany J. Batista Gomes não me deixam mentir.
O negócio foi um sucesso. Como alfaiate, Batista ganhou fama e simpatia. Magro e alto, por herança de família, era sorridente e bonachão. Tanto que foi apoiado pela família Teotônio para ser o candidato a prefeito. Foi e ganhou.
Depois, mudou-se com a família para João Pessoa e foi morar numa casa em Tambiá. Eu e Joao Cirino, o Nego Dão, morávamos na Casa do Estudante da Paraíba, na Rua da Areia. Mas, tinha um problema: o restaurante da CEP não tinha jantar no sábado e no domingo nenhuma refeição.
Nossa estratégia era visitar a casa dos conterrâneos. A casa de Batista era uma delas. Éramos amigos dos filhos do casal e chegávamos sempre por volta das 11 horas, que já está perto da hora do almoço.
Eduardo, que estudava Medicina na UFPB e era um orgulho para todos, era gaiato, e sacaneava com a gente. “Mamãe me diga uma coisa: por que esses meninos só fazem essas visitas a gente na hora do almoço?”
Dona Maria respondia: “Eduardo, meu filho, você não sabe que os meninos moram na Casa do Estudante e lá o restaurante fecha nos finais de semana”.
Batista, sentado na testa da mesa, ria. E recomendava: “Deixem os meninos comer em paz”.
Nem ralado vou pagar o que devo a Batista e Dona Maria